CPI da Covid: o que esperar do depoimento do diretor do Butantan, Dimas Covas

Senador Alessandro Vieira, que solicitou o depoimento de Covas na comissão, quer que ele esclareça detalhes da atuação do Instituto Butantan desde o início da pandemia.

27 mai 2021 - 07h55
(atualizado às 08h04)
A expectativa é que Dimas Covas esclareça como foi a negociação e compra de vacinas CoronaVac entre os governos estadual e federal com a China
A expectativa é que Dimas Covas esclareça como foi a negociação e compra de vacinas CoronaVac entre os governos estadual e federal com a China
Foto: Governo do Estado de São Paulo / BBC News Brasil

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, será ouvido nesta quinta-feira (27/05) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado. A expectativa é que ele esclareça como foi a negociação e compra de vacinas CoronaVac entre os governos estadual e federal com a China.

Covas e sua equipe coordenaram os testes e produção da CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e testada no Brasil pelo Instituto Butantan. Os testes da vacina no país começaram em julho de 2020 em seis Estados, além do Distrito Federal.

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Dimas Covas também é professor de medicina na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP e preside o Butantan desde 2017.

O requerimento de convocação de Covas foi assinado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Ele disse em entrevista à Agência Brasil que a intenção é saber da negociação, compra e produção de vacinas pelo Butantan.

"É necessária a oitiva do senhor Dimas Tadeu Covas para que esclareça todos os detalhes da atuação do Instituto Butantan desde o início da pandemia, especialmente com relação à produção de vacinas", defende o senador à agência.

De um lado, parlamentares oposicionistas apontam que o Ministério da Saúde teria se omitido e até negado a compra do imunizante, da mesma forma que a Pfizer afirma que teve seu imunizante recusado pelo governo federal.

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Na outra ponta, oposicionistas alegam que Dimas Covas usará a CPI para fazer discurso em prol do governador João Doria, principal defensor e quem tomou as rédeas das negociações com a China para a compra da CoronaVac.

Isso ocorre porque, depois de passar por todas as etapas de pesquisa clínica, o imunizante foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2021 e hoje responde por mais de 70% de todas as doses que foram aplicadas até o momento na campanha brasileira contra a covid-19.

O governador de São Paulo, João Doria, ainda atribui a demora na liberação da CoronaVac às constantes falas do presidente Jair Bolsonaro, que faz acusações infundadas sobre a origem do coronavírus e o papel do país asiático nisso.

Em depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi questionado pelos senadores em relação às falas de Jair Bolsonaro contra a compra da CoronaVac.

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O senador Humberto Costa (PT-PE) mostrou uma gravação do presidente Jair Bolsonaro dizendo que tinha dado ordens para que o imunizante não fosse comprado.

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi questionado pelos senadores na CPI em relação às falas de Jair Bolsonaro contra a compra da CoronaVac
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O Instituto Butantan afirmou que eficácia da CoronaVac nos casos graves e moderados é de 100% após as duas doses recomendadas. Para os casos leves, 78%.

Cronograma de vacinas

Em entrevista à BBC News Brasil há duas semanas, Dimas Covas afirmou que "até julho, enfrentaremos muitas dificuldades", causadas pela falta de insumos para a produção de doses, importados da China.

Ainda na visão do presidente do Butantan, isso se deve ao fato de o Brasil ter iniciado seu planejamento "muito tardiamente" e com "ações muito tímidas".

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"Se as primeiras ofertas que nos foram feitas tivessem sido levadas em conta, em dezembro de 2020 já poderíamos ter iniciado a vacinação no país. No entanto, isso não ocorreu", lembra.

Na entrevista, o diretor do Butantan também falou sobre a dificuldade em lidar com os chineses após as declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ministro da Economia, Paulo Guedes, que fizeram acusações sobre a suposta origem do vírus no país asiático.

"Nós que estamos na ponta, lidando diretamente com eles, enfrentamos muitas dificuldades. Em termos práticos, um documento que poderia ser assinado e autorizado em questão de dez ou quinze dias, que seria um tempo aceitável, demora muito mais e passa por todo um problema burocrático. Nós sentimos na pele essa dificuldade de trazer os insumos. Enquanto isso, outros países que também usam a CoronaVac, como é o caso do Chile, não enfrentam esses mesmos problemas", compara.

Para o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, o Brasil só deve ter uma segurança em relação à vacina quando começar a produzi-la integralmente no país. Hoje, apenas recebe o ingrediente farmacêutico ativo (IFA), dilui, envasa e distribui.

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"A gente optou por um processo de longo prazo com transferência de tecnologia futura. O governo federal ficou apenas com a vacina da AstraZeneca e, obviamente, ficamos sem um portfólio maior, que abriria o leque para comprar mais vacinas. Quando resolveu, a produção do primeiro semestre já estava comprometida e hoje a gente corre atrás de vacinas prontas enquanto a gente não transfere essa tecnologia", afirmou Renato Kfouri.

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