CPI da Covid: o que investigação quer saber com depoimento de Fabio Wajngarten

O ex-secretário das Comunicações Fabio Wajngarten depõe nesta quarta (12), na CPI da Covid, que investiga ações e omissões do governo no combate à pandemia.

12 mai 2021 - 07h43
(atualizado às 08h06)
Wajngarten (esq.) era um interlocutor bem próximo a Bolsonaro
Wajngarten (esq.) era um interlocutor bem próximo a Bolsonaro
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O ex-secretário das Comunicações Fabio Wajngarten depõe nesta quarta (12), na CPI da Covid, que investiga ações e omissões do governo no combate à pandemia.

Demitido do governo Bolsonaro em meio à suspeitas de corrupção, Wajngarten é um dos depoimentos mais aguardados na Comissão Parlamentar de Inquérito desde que deu uma entrevista à revista Veja acusando o ex-ministério da Saúde Eduardo Pazuello de incompetência nas negociações de compra de vacinas.

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Um dos objetivos da CPI é esclarecer porque o governo Bolsonaro recusou a compra de 70 milhões de doses oferecidas pelas Pfizer em 2020.

Antes de sua demissão, havia rumores de que Wajngarten estaria se envolvendo em assuntos do Ministério da Saúde, mesmo sem ser da área, por interesses pessoais. Na entrevista à Veja, o ex-secretário afirmou que seu envolvimento na compra de vacinas aconteceu porque o processo estava "sofrendo entraves" no Ministério da Saúde.

A expectativa dos senadores da CPI é que o ex-secretário esclareça suas acusações e apresente provas. Segundo o jornal O Globo, Wajngarten pretende apresentar cartas de agradecimento da Pfizer como prova de suas afirmações.

"Queremos entender porque um secretário de Comunicações assumiu a responsabilidade de fazer negociações com grandes empresas fabricantes de medicamentos, quando na verdade o Ministério da Saúde tem toda uma expertise, um conhecimento de como fazer isso", afirma o senador Humberto Costa (PT-PE), membro da CPI e ex-ministro da Saúde.

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"Além do que, queremos confirmar o que ele disse que as vacinas não foram compradas por incompetência do Ministério da Saúde. A mim parece que há uma tentativa dele de eliminar as responsabilidades de Bolsonaro e jogar toda a culpa no ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello", afirma o senador.

Em sua entrevista à Veja, Wajngarten tentou proteger o presidente Bolsonaro da responsabilidade sobre a recusa do governo à proposta da Pfizer.

"O presidente Bolsonaro está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto. Ele era abastecido com informações erradas", disse o ex-secretário.

Segundo o analista político Creomar de Souza, CEO da consultoria de risco político Dharma, Wajngarten parece fazer parte de uma estratégia de transformar o general Pazuello em um "bode expiatório" do governo, já que o objetivo da CPI é "encontrar um culpado pelo estado das coisas" no combate à pandemia;

"A sala ficou montada para a espera do bode expiatório", diz Souza. "Há uma preocupação do próprio Pazuello com a possibilidade de ser transformado nesse bode expiatório, até por isso ele tentou escapar do depoimento."

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Pazuello não compareceu ao seu depoimento, que estava marcado na semana passada, alegando ter tido contato com pessoas contaminadas por covid. Seu depoimento foi adiado para o dia 19.

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-PE), membro da CPI, há o risco de Pazuello tentar novamente "driblar a CPI".

"O Pazuello pode querer usar um artifício jurídico para driblar a CPI, dizendo que hoje ele é investigado em um inquérito criminal deflagrado pelo (procurador-geral da República Augusto) Aras e que, nessa condição, não pode prestar compromisso de dizer a verdade para não produzir provas contra si mesmo", afirmou Randolfe em entrevista ao canal CNN na terça. "Ou (ele pode) ainda tentar um habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal) para não comparecer."

Segundo Souza, a situação de Pazuello é muito complicada: se ele diz que seguiu orientações do presidente da República, incrimina o presidente; por outro lado, se ele afirma que tomou todas as decisões sozinho, incrimina a si mesmo.

O depoimento de Wajngarten é central para entender o quanto o governo Bolsonaro está disposto a proteger Pazuello.

"Ao final (do depoimento), a gente vai ter uma medida exata da relação entre Pazuello e o Planalto. Lembrando que há uma rivalidade entre os militares e essa área ideológica do governo da qual Wajngarten faz parte", afirma Souza.

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O senador Otto Alencar (PSD-BA), afirma que Wajngarten não teria porque se expor tanto (na entrevista em que fez acusações a Pazuello) se não quisesse transformar o ex-ministro da Saúde em.bode expiatório. O quanto os senadores vão confiar em sua versão, diz Alencar, "vai depender das provas materiais que apresentar".

Polícia Federal abriu inquérito sobre atividades de Wajngarten
Foto: Alan Santos/PR / BBC News Brasil

Falta de campanhas de comunicação contra covid e 'gabinete do ódio'

Os senadores, no entanto, não pretendem deixar que Wajngarten fuja de questionamento sobre suas próprias ações e foque somente nas acusações sobre Pazuello

"Ele precisa explicar por que, na condição de secretário de Comunicações do governo, não desenvolveu nenhuma campanha de comunicação para ajudar no processo de prevenção da covid-19", afirma o senador Humberto Costa (PT-PE), membro da CPI e ex-ministro da Saúde.

Costa afirma que Wajngarten também deve ser questionado sobre sua relação com o ministério na gestão de outros ministros.

"Por que ele desestimulou a tentativa do Ministério da Saúde, na gestão de (Luiz Henrique) Mandetta, de fazer uma campanha com essas características?"

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Em depoimento à CPI na semana passada, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que começou a dar entrevistas coletivas diárias sobre a pandemia porque não havia um plano de comunicação do governo.

"Aquelas entrevistas só existiam porque não havia o plano de comunicação", disse Mandetta, em resposta a uma pergunta do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.

"O normal, quando se tem uma doença infecciosa, é você ter uma campanha institucional. Como foi, por exemplo, a Aids. Não havia como fazer uma campanha (contra a covid). Não queriam fazer uma campanha oficial", disse Mandetta.

"Wajngarten também precisa explicar qual sua participação na campanha 'O Brasil não Pode Parar', que tinha o objetivo de sabotar as medidas de isolamento social", afirma Humberto Costa.

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Interlocutor muito próximo ao presidente Bolsonaro e parte da chamada ala ideológica do governo, o ex-secretário de comunicações também é visto pelos senadores oposicionistas como central para entender o papel do chamado "gabinete do ódio", estrutura de apoio ao governo das redes sociais acusada de ser responsável pela difusão de notícias falsas sobre a pandemia.

Segundo análise da FGV-DAPP (Diretoria de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas), a base de apoio ao presidente nas redes sociais têm dominado a discussão durante a CPI, correspondendo a dois terços das interações no Twitter. Grande parte dessas interações é composta por perfis muito parecidos e homogêneos, que postam os mesmos conteúdos nos mesmos momentos.

Uma das suspeitas dos senadores é de que gastos do governo com publicidade podem ter ajudado na disseminação de notícias falsas. Portanto Wajngarten deve ser questionado sobre esses repasses, que também estão sendo investigados por uma auditoria do TCU ( Tribunal de Contas da União).

A CPI da Covid já fez um requerimento de compartilhamento de dados do inquérito do STF sobre a disseminação de notícias falsas e de informações da CPI das Fake News.

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Wajngarten conheceu Jair Bolsonaro em 2016, e o auxiliou durante o período da campanha eleitoral de 2018
Foto: Agência Brasil / BBC News Brasil

Embora não haja, como avalia Souza, nenhuma indicação de que Wajngarten vá mudar sua postura de não implicar Bolsonaro em qualquer responsabilidade na má condução do combate à pandemia, o questionamento de senadores sobre fake news e falhas na comunicação coloca o ex-secretário em uma situação complicada, parecida com a de Pazuello.

Se o ex-secretário assume total responsabilidade por suas ações, pode acabar se colocando como culpado. Mas se afirma que recebeu ordens superiores, complica a situação de Bolsonaro.

*colaborou Paula Idoeta, de São Paulo

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