CPI ouve sócio de intermediária da vacina Convidecia

Com sede no berço eleitoral do líder do governo na Câmara, Belcher ofereceu doses da vacina chinesa ao Ministério da Saúde pelo valor mais caro dentre todos os imunizantes, US$ 17

24 ago 2021 - 09h26
(atualizado às 09h28)

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid recebe nesta terça-feira, 24, o empresário Emanuel Catori, um dos sócios da farmacêutica Belcher. A empresa atuou como intermediária do laboratório chinês CanSino na negociação com o Ministério da Saúde pelo fornecimento de 60 milhões de doses da vacina Convidencia ao custo de R$ 5 bilhões. Em junho, os chineses romperam com a intermediária sem explicar o motivo.

A negociação entre a Belcher e o governo federal teve início em junho desde ano, quando a empresa já havia sido alvo da operação "Falso Negativo", sob suspeita de fazer parte de um esquema que superfaturou testes de coronavírus adquiridos pelo governo do Distrito Federal. A investigação aponta conluio entre empresas para oferecer produtos com preços mais altos.

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Emanuel Catori, é um dos diretores da farmacêutica Belcher, que negociou 60 milhões de doses da vacina Convidecia com o governo federal.
Emanuel Catori, é um dos diretores da farmacêutica Belcher, que negociou 60 milhões de doses da vacina Convidecia com o governo federal.
Foto: Reprodução / Estadão

O preço da unidade do imunizante ofertado pela farmacêutica era superior a todas as outras vacinas já compradas pelo governo federal. No caso da Convidencia, a dose foi oferecida a US$ 17, valor acima do imunizante indiano Covaxin, o mais caro a ser negociado até então pelo Ministério da Saúde (US$15).

Amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Catori poderá ficar em silêncio e não responder a perguntas que possam incriminá-lo.

Ligação com Ricardo Barros

Assim como a Precisa Medicamentos, intermediária da vacina Covaxin, a Belcher também tem ligações entre seus donos e o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR).

A Belcher tem sede em Maringá (PR), reduto eleitoral da família Barros, e cidade onde ele já foi prefeito.

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Além de Catori, por trás da Belcher está Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, outro sócio da empresa. Ele é filho de Francisco Feio Ribeiro, um ex-secretário de Ricardo Barros na época em que ele era prefeito da cidade paranaense. Moleirinho também atuou na Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) durante o governo de Cida Borghetti (Progressistas), casada com Barros.

Outra ligação é o advogado Flávio Pansieri, que defende o parlamentar em ações na Justiça e, ao mesmo tempo, se apresentou como representante da empresa na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como mostrou o jornal Folha de S. Paulo. A empresa negou qualquer "interferência ou relação do deputado, de qualquer outro parlamentar, autoridade ou terceiro" nos negócios.

Em depoimento à CPI em 12 de agosto, ao ser questionado sobre sua relação com o empresário e com a Belcher, Barros afirmou que é amigo pessoal da dupla, mas negou que tenha participado de reuniões no Ministério da Saúde para favorecer a empresa na venda de vacinas ao governo.

"Eu não facilitei, não participei. Eventualmente, se solicitado, posso ter buscado auxiliar não só a Belcher, mas todos os que me procuraram. Todas as pessoas que me procuraram pra vender equipamento de proteção, para vender vacina, pra vender qualquer coisa ao ministério ou para tentar uma parceria para trazer a sua tecnologia pro Brasil", disse o deputado.

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Proximidade com bolsonaristas

Como mostrou o Estadão, a relação da Belcher com o bolsonarismo vai além de Barros. Emanuel Catori já apareceu ao lado de empresários próximos do presidente Jair Bolsonaro que defenderam a compra da vacina chinesa, caso de Carlos Wizard. Outro empresário que defendeu a aprovação da Convidencia pela Anvisa foi Luciano Hang.

Um grupo de empresários, liderado por Wizard e Hang, foi o responsável pelo pedido de autorização de uso no Brasil desse imunizante chinês. Catori chegou a participar de uma "live" ao lado dos empresários, quando defendeu a vacinação pelo setor privado para "agilizar o processo de vacinação em massa para que tudo volte à normalidade o mais rápido possível".

A convocação de Catori foi requerida pelo vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que argumenta que o depoente terá que esclarecer "os detalhes das negociações para a venda da vacina chinesa Convidecia". De acordo com Randolfe, Catori "fez transmissões online com os empresários Luciano Hang e Carlos Wizard para tratar da venda da vacina para o Brasil".

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