CPMI do 8 de Janeiro: ex-diretor da Abin relata alerta pessoal a ex-chefe do GSI

Saulo Moura da Cunha, então responsável pela Abin, diz que o general G.Dias lhe respondeu sobre alertas: 'vamos ter problemas'

1 ago 2023 - 03h11
(atualizado às 14h36)

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Saulo Moura da Cunha, então diretor responsável pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), afirmou nesta terça-feira, 1º, que alertou pessoalmente o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula, general Edson Gonçalves Dias, conhecido como G. Dias, para o agravamento dos riscos de invasão das sedes dos Três Poderes da República no dia 8 de Janeiro. A revelação de Cunha foi feita em depoimento a parlamentares na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques golpistas em Brasília.

Saulo Moura Cunha, ex-diretor da Abin, em depoimento à CPMI CPI do 8 de Janeiro Edilson Rodrigues/Agência Senado
Saulo Moura Cunha, ex-diretor da Abin, em depoimento à CPMI CPI do 8 de Janeiro Edilson Rodrigues/Agência Senado
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado / Estadão

"Eu comecei a falar por volta das 8h no dia 8 de janeiro com o general G. Dias e a encaminhar informações que recebia, inclusive ressaltando a informação dos 105 ônibus (que chegaram a Brasília com golpistas)", afirmou Cunha em depoimento aos parlamentares.

O depoimento foi explorado por bolsonaristas para tentar alegar uma suposta omissão do governo federal na prevenção e resposta aos ataques golpistas. Por outro lado, parlamentares da base do governo buscaram explorar que autoridades do Governo do Distrito Federal foram também alertadas para os riscos e não evitaram a invasão.

Cunha disse aos parlamentares que, até dois dias antes dos ataques, a Abin tinha informações sobre a chegada de que estava prevista a chegada de 43 ônibus fretados a Brasília, com extremistas. Mas, na véspera, com novas informações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), essa previsão mais do que dobrou e a Abin passou a esperar 105 fretados em Brasília. Cunha diz ter atualizado G. Dias sobre essa nova previsão por volta das 8h do dia 8 de Janeiro, no que recebeu como resposta do então chefe do GSI por WhatsApp: "Acho que vamos ter problemas".

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"Quase ninguém foi trocado na semana em que tudo foi planejado. É que o novo governo não tinha uma equipe. À exceção de Saulo, as outras diretorias não foram nomeadas e para que não ficassem vagas, os diretores que ocupavam as funções não puderam ser exonerados. Durante a semana, a situação na agência foi descrita como de caos", diz o requerimento do senador.

Entre os dias 2 e 8 de janeiro, a Abin emitiu 19 informes sobre as movimentações que estavam sendo feitas por radicais. No dia 7, véspera dos ataques, a quantidade de ônibus que chegou a Brasília e o número estimado de pessoas que se deslocaram à cidade também foram informados pela agência.

Retomada dos trabalhos

A sessão desta terça-feira, que marca a retomada dos trabalhos da CPMI, é a primeira a ser realizada depois da divulgação do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que mostrou uma movimentação de R$ 17,1 milhões na conta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O dinheiro foi recebido por transferências via Pix. Uma possível explicação para os valores é a "vaquinha" feita pelos apoiadores para que o ex-chefe do Executivo pagasse multas e condenações processuais.

O pedido feito pelo senador Izalci é o mais incisivo sobre essa intenção. Ele reúne reportagens que mostram trechos de um alerta que foi emitido pela Abin na véspera dos atos antidemocráticos e acusa a gestão petista de não ter adotado providências adequadas. O parlamentar menciona uma notícia do Estadão que revelou que, no 8 de janeiro, a Abin estava sem diretor-geral e com lacunas em vários cargos importantes, como a contrainteligência.

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