A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, exonerou ontem Paulo Roberto de Mendonça e Paula, responsável por assinar um contrato de R$ 7 milhões do Ministério da Cidadania com uma empresa de tecnologia suspeita de ser usada como laranja para desviar dinheiro dos cofres públicos. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Mendonça é aliado de Osmar Terra (MDB-RS), que deixou o cargo de ministro da Cidadania e vai retomar o mandato de deputado federal.
O desligamento de Mendonça ocorre um dia após o Estadão mostrar que, apesar de Terra ter anunciado a demissão de toda a equipe responsável por contratar a Business to Technology (B2T) para prestar serviços no Ministério da Cidadania, quatro funcionários continuavam com cargos no governo.
A pasta então comandada por Terra fechou contrato mesmo após alertas de empresas concorrentes e de órgãos de controle sobre suspeitas de irregularidades envolvendo a B2T. Na semana passada, a B2T foi alvo da Operação Gaveteiro, da Polícia Federal, que apura desvio de R$ 50 milhões do extinto Ministério do Trabalho entre 2016 e 2018, na gestão Michel Temer.
Segundo publicação no Diário Oficial da União de ontem, a saída de Mendonça do cargo de subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração foi a pedido dele. Ele foi para o ministério de Damares em novembro, após ser exonerado do cargo que ocupava na Cidadania.
A ligação de Mendonça com os emedebistas vem do governo Temer, quando, em 2016, Terra o chamou para compor a equipe do antigo Ministério do Desenvolvimento Social (rebatizado de Cidadania na gestão de Jair Bolsonaro). O agora ex-subsecretário costumava dizer nos corredores da Esplanada que fora indicado para o cargo pelo então secretário executivo, Alberto Beltrame, hoje secretário de Saúde no governo do Pará, comandado por Helder Barbalho (MDB).
No Ministério da Mulher, Mendonça acabara de montar uma equipe de confiança para coordenar as contratações. O cargo era equivalente ao que exerceu por três anos com a confiança de Terra - o de subsecretário de Assuntos Administrativos - com a mesma remuneração: R$ 13,6 mil.
Ao ser procurado na sexta-feira da semana passada, por telefone, o agora ex-subsecretário chegou a afirmar ao Estado que não tinha mais qualquer vínculo com o governo. Novamente procurado ontem, não atendeu. Na sua agenda, porém, consta que trabalhou até terça-feira, quando participou de reunião com os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário.
Empresas
As suspeitas que recaem sobre Mendonça não são novas nos meandros da administração. Uma funcionária de carreira e uma pessoa próxima ao ex-subsecretário, ouvidas pela reportagem, citaram a proximidade dele com as empresas prestadoras de serviços ao governo e relataram que ele costumava ordenar aos subordinados que recebessem os empresários para falar sobre contratos. A fama de conhecedor da burocracia das contratações vem desde o período em que Mendonça foi do Exército - atuou por cinco anos no Estado-Maior da Força no setor que cuida de suprimentos, além de chefiar as áreas financeira e administrativa.
A experiência chamou a atenção da equipe de Terra, que o convidou para o cargo no governo, e chegou aos ouvidos de empresários interessados nas compras públicas. Logo se tornou um homem de confiança do então ministro e se aproximou de parlamentares do partido.
Apesar de ter se afastado do dia a dia do Ministério da Cidadania, mantinha contatos na pasta. O amigo e advogado Marcos Vinícius Boaron, por exemplo, continuou no cargo de diretor de programa. Boaron era uma espécie de braço direito do subsecretário.
Perfil
Quem conviveu com Paulo Roberto de Mendonça e Paula diz que ele é discreto. Coronel da reserva do Exército, ele recebe cerca de R$ 9 mil pelas Forças Armadas, que eram complementados com outros R$ 13 mil da função de confiança desempenhada no governo federal até ontem.
A família mora em uma casa em um condomínio fechado da capital federal. Possui também um apartamento localizado no Sudoeste, um dos bairros com o metro quadrado mais valorizado da cidade.
Em 2016, quando assumiu seu primeiro cargo no governo, comprou veículos importados que, somados, valiam cerca de R$ 300 mil na época.