Foi em 28 de agosto de 2018 que Jair Bolsonaro esteve na casa de seu maior inimigo na mídia. Naquela terça-feira, o então candidato do PSL à Presidência da República foi sabatinado no estúdio do ‘Jornal Nacional’, na sede do jornalismo da Globo, no Jardim Botânico, zona sul do Rio. A edição marcou média de 31.4 pontos de audiência. Nos primeiros seis meses de 2021, o ‘JN’ ficou com média 26.
‘Bolsonaro usa a Globo contra a Globo em entrevista no JN’ foi o título do post deste blog sobre o evento. O deputado federal polemizou ao citar detalhes da vida privada de Bonner, contestar o salário menor de Renata Vasconcellos em relação ao do colega de bancada, repetir o apoio declarado de Roberto Marinho à ditadura e acusar a emissora de viver às custas de “bilhões de recursos da propaganda oficial do governo”.
Nesses 3 anos, o clima de animosidade entre o presidente e o âncora aumentou muito. Revoltado com a cobertura jornalística de seu governo, Bolsonaro disparou inúmeros xingamentos, deboches e acusações contra Bonner. Diante das câmeras, o jornalista manteve a postura diplomática. O máximo a que se permitiu foram caretas irônicas, expressões de desaprovação e desmentidos cuidadosos.
Em mais de uma ocasião, o presidente desafiou o apresentador do ‘Jornal Nacional’ a um debate ao vivo olho no olho. Não teve resposta. Quem mais perde é o telespectador. O embate seria interessante e elucidativo de se assistir. O reencontro – tão esperado quanto temido – pode acontecer daqui a 1 ano, data provável da série de entrevistas com presidenciáveis no principal telejornal da Globo. Jair Bolsonaro se movimenta desde já pela reeleição.
Quem também aguarda ansiosamente por tal oportunidade é Lula, candidato do PT ao Palácio do Planalto. Assim como o adversário da direita, o líder dos esquerdistas vê Bonner como um alvo a ser combatido. O ex-presidente responsabiliza o jornalismo da Globo – e especialmente matérias desfavoráveis a ele no ‘JN’ – por suas condenações na Operação Lava Jato e a prisão de 580 dias após sentenças do então juiz Sergio Moro (outro eventual postulante à Presidência), anuladas pelo Supremo Tribunal Federal.
Esse ambiente de ódio e busca por reparação (ou vingança) faz bem ao telejornalismo? Sim e não. De um lado, serve como combustível para o noticiário e as discussões sobre política e a atuação jornalística sob os princípios de isenção, imparcialidade e ética. Na outra ponta, essa toxicidade contamina o debate e transforma jornalistas em jogadores no tabuleiro eleitoral. Pelas amostras, a cobertura da eleição presidencial de outubro de 2022 deve ser a mais tensa de todos os tempos. Na prática, a campanha já começou e a imprensa sinaliza euforia com essa antecipação.