O delegado Carlos Henrique Oliveira, ex-superintendente da Polícia Federal (PF) no Rio e atual diretor executivo da corporação, prestou um segundo depoimento ontem no inquérito que apura suspeita de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. Ele deu uma versão diferente para sua indicação ao novo cargo.
No último dia 13, Oliveira disse que nenhuma pessoa cogitada para assumir a diretoria-geral da PF o havia procurado para oferecer a direção-executiva e que não tinha interlocução direta com Bolsonaro, seus familiares, ministros ou assessores.
Ontem, ele contou outra história. Disse que, em 27 de abril, assim que foi indicado por Bolsonaro para chefiar a PF, o diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, o chamou para assumir a posição de número 2 na hierarquia da corporação. Ramagem teve a nomeação suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 29 de abril.
Oliveira também narrou, ontem, um encontro que teria ocorrido no segundo semestre do ano passado entre ele, Ramagem e Bolsonaro no Palácio do Planalto. Ele, contudo, não soube informar o "objetivo específico" dessa reunião.
"Na realidade, gostaria de esclarecer que foi procurado no dia 27 de abril do corrente ano pelo delegado de Polícia Alexandre Ramagem, que perguntou para ele, depoente, se aceitaria ser diretor executivo da Polícia Federal durante a sua gestão", diz o termo de depoimento de Oliveira. Ele confirmou que aceitou o convite no dia seguinte, 28 de abril. Oliveira disse que conheceu Ramagem em 2016, durante a Olimpíada do Rio, e que seu relacionamento com o delegado é "estritamente profissional".
Ao falar sobre a reunião com Bolsonaro, Oliveira disse que o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, tinham ciência do encontro. O momento do encontro, segundo semestre de 2019, marca a primeira tentativa de Bolsonaro em emplacar um nome de sua confiança na chefia da PF do Rio, após a exoneração do então superintendente Ricardo Saadi. O presidente queria Alexandre Saraiva, do Amazonas, mas o nome indicado pela cúpula da PF era Oliveira, então superintendente no Pernambuco.
"Nessa reunião o presidente Jair Bolsonaro fez uma explanação geral da trajetória que havia percorrido até a sua eleição e dos desafios que enfrentou; Que perguntado se o presidente Jair Bolsonaro sabia que o depoente havia sido indicado para a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, o depoente respondeu que o presidente não disse isso diretamente, mas que isso já era um dado público à época", segundo o relato feito pelo delegado. Oliveira disse que não foi perguntado sobre investigações.
Inquérito
Oliveira também foi questionado sobre os supostos vazamentos de informações da Operação Furna da Onça ao senador Flávio Bolsonaro. Disse que se recordava apenas de um delegado que seria próximo da família Bolsonaro. Segundo ele, porém, o delegado não participou da operação. O número 2 da PF também relatou que a expedição dos mandados 'teve um trâmite diferente do habitual'. Segundo ele, o relator da operação, desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), levou a decisão para apreciação da Turma Criminal.