O advogado do doleiro Alberto Youssef, Antônio Augusto Figueiredo Basto, afirmou nessa segunda-feira, ao deixar a primeira audiência judicial das ações penais da Lava Jato, que quem atribui a responsabilidade pelo escândalo da Petrobrás exclusivamente às empreiteiras está “alucinado”. Após os depoimentos do delegado federal Marcio Adriano Anselmo e dos delatores Augusto Ribeiro De Mendonça Neto, Julio Gerin De Almeida Camargo, executivos da Toyo Setal, Basto disse que as declarações confirmam o que Youssef afirmou em sua colaboração com a Justiça. “O esquema era de dentro para fora, com exigências, como pedido de dinheiro, que era dado a agentes políticos. A corrupção não era levada até a Petrobras, era feita através de seus diretores, indicados politicamente que cobravam propina para a manutenção dos contratos. Meu cliente era apenas um leva e traz desse dinheiro”, declarou.
Basto atribuiu a autoria intelectual do esquema aos “agentes políticos”, que não são citados nesta fase do processo por conta da prerrogativa de foro (serão investigados e julgados pelo Supremo Tribunal Federal). “Não tenho responsabilidade de imputar responsabilidade a ninguém, não estou eximindo as empreiteiras, mesmo porque eles têm os melhores advogados do Brasil para isso, mas a verdade é que o esquema vem de cima para baixo”, disse. “Não tem anjo nessa história, mas querer imputar a responsabilidade única e exclusivamente aos entes privados é uma barbaridade. Todo mundo sabe que um esquema desse, na maior empresa do País, não funcionaria se não houvesse uma ordem de cima. É tudo ordem dos políticos, quem diz o contrário, está alucinado”, completou.
Basto disse que os nomes dos ex-diretores da Petrobras Renato Duque e Paulo Roberto Costa foram citados várias vezes pelos depoentes como os receptores do dinheiro para que os contratos fossem mantidos. “Eles deixaram claro que havia essa exigência. Um deles citou que Duque exigiu uma contribuição oficial ao PT”, relatou.
A audiência desta segunda refere-se à ação penal que tem com réus três executivos da Camargo Corrêa (João Ricardo Auler, Dalton dos Santos Avancini e Eduardo Leite), o presidente da UTC engenharia, Ricardo Ribeiro Pessoa, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e outras pessoas que teriam agido a mando do doleiro (Adarico Negromonte Filho, Jayme Alves de Oliveira Filho, Márcio Andrade Bonilho e Waldomiro de Oliveira). Eles são acusados, entre outras coisas, de fraudar a superfaturar as licitações para as obras das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, Presidente Getúlio Vargas, no Paraná (ambas de responsabilidade da Camargo Corrêa) e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (tocado pela UTC). Para esta terça estão marcados os depoimentos referentes ao processo envolvendo a Engevix.
O advogado de Eduardo Leite, Antonio Mariz de Oliveira, disse que a audiência foi boa para seu cliente, pois, apesar de reafirmarem que houve pagamento de propina, os delatores Augusto Ribeiro De Mendonça Neto e Julio Gerin De Almeida Camargo, teriam, na interpretação do advogado, isentado Leite de responsabilidade. “Eles até falaram que tiveram contato com Eduardo Leite como representante da Camargo Corrêa, mas como um representante de terceiro escalão, sem autonomia para decidir, agindo sempre de acordo com ordens superiores”, disse.
O defensor de Ricardo Ribeiro Pessoa, Alberto Toron, também saiu satisfeito da audiência, principalmente porque, segundo ele, os delatores desmentiram a informação de que seu cliente era o líder do clube das empreiteiras. “Eles foram claros, que não existia esse tal clube e, muito menos, que ele seria comandado pelo Ricardo”, disse. Toron, no entanto, mostrou preocupação com o que chamou de “pré-disposição do juiz para condenar”. “Todas as perguntas que o juiz fez na audiência são perguntas dirigidas à condenação. Coisa que causou preocupação a todos os advogados. Eu digo isso com muito pesar, mas é exatamente o que se passou”, reclamou, dizendo que, nas perguntas, o juiz Sérgio Moro já deixava claro que, em sua opinião, houve propina, houve corrupção e houve formação de cartel.
Já Celso Vilardi, advogado de João Auler e Dalton Avancini, disse que os depoimentos não confirmaram a questão do cartel das empreiteiras e que os delatores “deixaram claro que as construtoras foram pressionadas por funcionários da Petrobras”. O advogado, ainda reclamou que “tem pessoas que estão presas que sequer foram citadas”.
Os advogados dos delatores saíram escoltados junto com seus clientes da audiência e não atenderam à imprensa.