Desistência de Barbosa poderia favorecer Marina e Bolsonaro, dizem cientistas políticos

Para analistas, acreana e ex-capitão do Exército devem absorver muitos potenciais eleitores do ex-ministro, visto como alheio à política tradicional e associado à luta anticorrupção.

8 mai 2018 - 18h14
(atualizado às 18h23)
Mesmo sem anunciar candidatura, Joaquim Barbosa chegou a 10% das intenções de voto em pesquisas
Mesmo sem anunciar candidatura, Joaquim Barbosa chegou a 10% das intenções de voto em pesquisas
Foto: STF / BBC News Brasil

O anúncio do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB) de que não será candidato à Presidência da República em outubro tende a favorecer as candidaturas de Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL), segundo cientistas políticos entrevistados pela BBC Brasil.

Para eles, Bolsonaro e Marina - líderes nas pesquisas eleitorais em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é considerado - atraem eleitores que poderiam ser seduzidos por Barbosa e buscam um candidato de fora do mundo político tradicional ou identificado com o discurso anticorrupção.

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O ex-ministro afirmou em sua conta no Twitter que a decisão de não concorrer era estritamente pessoal e ocorria após várias semanas de reflexão.

Barbosa alimentou especulações de que poderia se lançar à Presidência ao ingressar no PSB em abril, a um dia do prazo final para filiações de candidatos a cargos nas eleições de 2018.

No dia 15 daquele mês, ele obteve entre 8% e 10% das intenções de voto numa pesquisa do Datafolha. Nos cenários em que a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era desconsiderada, Barbosa ficou em terceiro lugar, em empate técnico com Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) e atrás de Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).

O bom desempenho do ex-ministro mesmo antes de confirmar uma candidatura levou muitos analistas a avaliar que Barbosa tinha grande potencial, podendo atrair eleitores de diferentes campos políticos.

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Marina Silva pode atrair eleitores que viam Barbosa como capaz de romper polarização, diz analista
Foto: BBC News Brasil

Outsider e herói anticorrupção

Para a cientista política Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o ex-ministro simbolizava duas questões que terão peso na disputa deste ano: a luta anticorrupção e a rejeição a políticos tradicionais.

Solano diz que, ao conduzir no STF o processo do mensalão, que levou à prisão altos dirigentes do governo Lula, em 2012, Barbosa se tornou um ícone do combate à corrupção.

"Ele representou o que o (juiz federal Sérgio) Moro representa hoje: a ideia de um herói messiânico, expoente da moral, da ética e dos princípios."

Para Solano, Barbosa também pontuava bem nas consultas eleitorais por ser um outsider - uma figura alheia ao mundo político. "Os políticos profissionais hoje estão muito desvalorizados, porque são vistos como atrelados à corrupção."

Com o anúncio de que o ex-ministro não se candidatará, a professora diz acreditar que Bolsonaro tende a se beneficiar.

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"Ele também se coloca como um outsider, embora ele não seja, e como o único candidato não envolvido com corrupção."

Solano diz que Marina também pode, em menor grau, absorver potenciais eleitores de Barbosa, por ser vista por muitos como alheia aos partidos tradicionais e não envolvida com corrupção. Segundo Solano, Marina também pode agradar eleitores que pendiam para Barbosa por vê-lo como alguém capaz de superar a polarização entre esquerda e direita.

Desde que deixou o PT, em 2009, a ex-ministra do Meio Ambiente vem se movendo para o centro do campo político, segundo analistas. No segundo turno da eleição de 2014, ela apoiou o candidato do PSDB, Aécio Neves.

Consolidação de candidaturas

Para Geraldo Tadeu Monteiro, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Barbosa desiste de concorrer num momento de intensa negociação entre os partidos.

Nos últimos dias, o MDB sinalizou que poderá apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin, do PSDB; o ex-governador baiano Jaques Wagner, do PT, disse que seu partido poderia apoiar Ciro Gomes, do PDT, ao mesmo tempo em que outros dirigentes do PT reiteram a candidatura Lula; e o senador e pré-candidato Álvaro Dias (Podemos) defendeu uma aliança com o empresário Flávio Rocha (PRB), também pré-candidato.

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Para Monteiro, a saída de Barbosa "joga o PSB nessas conversas". Ele diz que há dois caminhos principais para o partido: reeditar a aliança com Marina Silva, que vigorou na eleição de 2014, ou integrar uma possível coalizão de esquerda em torno de Ciro Gomes - opção que ele considera mais provável.

Em entrevista à Folha de São Paulo nesta terça-feira, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), deu mais um empurrão à candidatura de Ciro ao defender que os partidos de esquerda apoiem o político cearense.

Segundo Monteiro, à parte os impactos do anúncio de Barbosa nas negociações partidárias, o gesto deve favorecer Marina Silva.

Para o professor, a ex-ministra "trafega na mesma faixa que Barbosa", vista como uma política ao centro do espectro político e de origem humilde.

Embaralhamento

Para Flávia Biroli, professora de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), é difícil avaliar os impactos da desistência de Barbosa para os demais postulantes ao Planalto, pois a candidatura do ex-ministro jamais se consolidou e pouco se sabe sobre seus potenciais eleitores.

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Ela diz que o anúncio de Barbosa afeta uma articulação que estava em curso no movimento negro. "Havia a possibilidade de que a presença de um homem negro na disputa pudesse atrair esse segmento, tradicionalmente posicionado na centro-esquerda."

Para Biroli, a presença de Barbosa embaralhava a disputa, já que ele jamais detalhou suas posturas políticas.

"É possível que, não existindo sua candidatura, tenhamos um cenário um pouco mais claro em termos de centro-direita e centro-esquerda."

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