Depois de uma longa trajetória como coordenador formal da Operação Lava Jato, acusações de abuso de poder e conluio com o magistrado - todas deixadas de lado pela prescrição resultante da procrastinação repetida da análise de seu caso pelo Conselho Nacional do Ministério Público -, Deltan Dallagnol deixa a operação.
As razões apresentadas dizem respeito a questões familiares - a saúde de sua filha pequena. Porém, a despedida teve o mesmo tom impresso pelo Procurador da República à sua atuação no cargo: um discurso político voltado a cativar o apoio popular à operação, apresentada por ele como se fosse uma instituição do Estado em si mesma e não um instrumento a serviço de uma tal instituição, o Ministério Público.
Deltan sinaliza que como procurador e - mais importante - como cidadão, seguirá em sua luta contra a corrupção. É mais importante este segundo papel porque nele Dallagnol poderá fazer de política de forma ainda mais desabrida. Quem sabe, como Sergio Moro, deixando sua posição no sistema de Justiça e entrando de vez na política partidária.
É um desfecho ainda em aberto. Mas o tom dado pelo procurador à sua despedida, mesclando a emotividade de pai ao engajamento de militante, dá boas pistas de para onde deve caminhar.
Ainda faltam dois anos para as eleições de 2022. Nelas, Moro tende a figurar como estrela de primeira grandeza. Que papel terá Dallagnol, seu escudeiro na escalada para a popularidade?
* CIENTISTA POLÍTICO E COORDENADOR DO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS DA FGV-SP