O governo federal começa a avaliar como vai ser a divisão dos R$ 50 bilhões para investimentos em obras de mobilidade urbana. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse nesta segunda-feira que o governo quer dar velocidade às obras que já estão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de novos serviços que contemplem a melhoria do transporte público.
Protestos por mudanças sociais levam milhares às ruas em todo o País
O montante de R$ 50 bilhões para investimentos em mobilidade urbana foi anunciado pela presidente Dilma Rousseff no último dia 24, em resposta à onda de manifestações pelo País e que teve origem na reivindicação do Movimento Passe Livre pela redução da tarifa de ônibus em São Paulo. Após reunião com o governador de São Paulo, Gerado Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Fernando Haddad, a titular da pasta disse que as solicitações dos governos dos Estados e municípios seguem a prioridade do governo federal.
"Todas as propostas apresentadas estão em linha com preocupação do governo de priorizar o transporte coletivo de massa", disse ela. As demandas de São Paulo somaram R$ 17,3 bilhões. Segundo Alckmin, as obras do Estado contemplam melhorias no Metrô, trens e construção de corredores, orçadas em R$ 10,8 bilhões. Já o pedido da prefeitura para a construção de corredor, com 150 quilômetros de extensão, ficou no valor de R$ 6,5 bilhões.
Questionada por jornalistas, a ministra do Planejamento não respondeu de onde virão os recursos anunciados para mobilidade urbana e também não antecipou o corte do Orçamento, previsto para ocorrer esta semana. Segundo ela, o anúncio da divisão dos recursos devem ocorrer nas próximas semanas. O ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, enfatizou que o foco do governo para liberação de recursos dos estados são obras em transporte público. “O primeiro critério que será levado em consideração é a alta capacidade de transporte. A partir daí, vamos fazer novas reuniões para então decidirmos os recursos”, comentou.
Neste momento, Miriam Belchior e Aguinaldo Ribeiro estão reunidos com o governador e o prefeito do Rio, respectivamente, Sérgio Cabral e Eduardo Paes. No fim da tarde, serão recebidos o governador e o prefeito da Bahia, Jaques Wagner e Antônio Carlos Magalhães Neto, nessa ordem.
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.