A Polícia Federal obteve mensagens no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), que apontam que antes de ser preso ele já estava preocupado com a possibilidade de detenção após deixar o governo. O militar fez um acordo de delação premiada após sua prisão. Os diálogos foram obtidos pelo jornal Extra.
De acordo com o jornal, as investigações mostram que, em 2 de janeiro de 2023, Cid enviou ao general Estevam Theophilo, à época comandante de Operações Terrestres (Coter) do Exército, o link de uma reportagem que abordava a possível prisão de Bolsonaro. Especulava-se que o auxiliar do ex-presidente poderia ser preso já nas primeiras semanas do novo governo.
À época, Teophilo integrava o Alto Comando da Força, cargo que ocupou até novembro do ano passado. Na resposta enviada para Cid, o general afirmou que falaria com o recém-empossado comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, e disse ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro: "Nada lhe acontecerá" .
Para a PF, essa resposta de Teophilo a Cid “demonstra que os investigados, já durante o novo governo, ainda acreditavam que poderiam interferir nas investigações criminais em andamento”.
Outra conversa obtida pela PF revela a reação de Cid às ordens de prisão emitidas por Moraes contra autoridades do governo do Distrito Federal, em relação aos eventos de 8 de janeiro. Expressando um certo alívio, Cid comentou: "Nessa guerra toda pelo menos eles me esquecem... Eu acho".
No entanto, Cid foi detido quatro meses depois, em 3 de maio de 2023, juntamente com outros cinco suspeitos de envolvimento em um esquema de falsificação de cartões de vacina.
Já Arruda, que sucedeu Theophilo como comandante do Exército, deixou o cargo menos de um mês após assumi-lo em 21 de janeiro do ano anterior. A medida teria sido motivada em parte, pelo desgaste institucional decorrente dos eventos de 8 de janeiro.
Além disso, a recusa de Arruda em revogar a nomeação de Cid para o 1º Batalhão de Ações de Comandos, em Goiânia, foi um fator decisivo em sua exoneração. A justificativa apresentada pelo ministro da Defesa para tal ato foi a "quebra de confiança". A nomeação de Cid foi posteriormente anulada pelo atual comandante da Força, general Tomás Paiva.
Estevam Theophilo não se posicionou sobre o caso ao jornal Extra. Já a defesa de Mauro Cid afirmou que não teve acesso aos autos da última operação: "Enquanto não tivermos tudo, não podemos emitir conclusões, até pelo sigilo que assiste a investigação".