A presidente da República, Dilma Rousseff, assiste nesta sexta-feira a uma sessão do documentário O Dia que Durou 21 Anos, no Palácio da Alvorada. O filme retrata a influência do governo dos Estados Unidos no golpe de 1964, que deu início ao regime militar no Brasil.
O filme é dirigido por Camilo Tavares e foi produzido com a ajuda do pai dele, o jornalista Flávio Tavares, que lutou contra a ditadura militar e foi um dos presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, sequestrado por grupos de resistência ao regime no Brasil, em 1969. Camilo nasceu no exílio, no México, e veio para o Brasil com 9 anos.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão, foi um dos presos enviados para o exílio no México junto de Tavares. O pai do diretor fez todas as entrevistas do filme, indagando inclusive ex-adversários, como o ex-ministro Jarbas Passarinho.
Torturada durante a ditadura, Dilma assiste ao filme num momento de incerteza diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos. A presidente fez duras críticas ao país depois da revelação de que Agência Nacional de Segurança (NSA) espionou comunicações trocadas entre ela e assessores.
Participarão da projeção do filme o diretor Camilo Tavares e a produtora-executiva Karla Ladeia, que receberam o convite da presidente nesta semana. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também estará na sessão.
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA), funcionou em Brasília pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.
Monitoramento
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
De acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e do presidente do México, Enrique Peña Nieto, candidato à presidência daquele país quando o relatório foi produzido.
O nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP (código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos de mensagens ou ligações.