A presidente Dilma Rousseff cancelou nesta quinta-feira o envio da equipe que embarcaria no próximo sábado para Washington, nos Estados Unidos, com objetivo de preparar sua visita ao país em outubro. A informação foi dada pela secretaria de comunicação do Palácio do Planalto, que não confirmou o motivo do cancelamento e nem se a viagem da presidente também estaria ameaçada.
A equipe precursora, formada por agentes de segurança, diplomatas e cerimonial da Presidência, faz o primeiro reconhecimento para a visita, analisando questões de logística, hospedagem, transporte, rotas e instalações em geral, além da agenda prevista e dos acordos que podem ser assinados.
Desde a revelação no último domingo de que Dilma e seus principais assessores teriam sido espionados pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, a presidente tem mostrado irritação com o governo Obama. Nos bastidores, Dilma tem condicionado sua visita de Estado a Washington, prevista para o dia 23 de outubro, a um pedido de desculpas público por parte dos americanos.
A secretaria de comunicação da Presidência confirmou ainda que Obama e Dilma devem ter um encontro informal em paralelo ao encontro de cúpula do G20, em São Petersburgo, na Rússia. De acordo com assessores, o presidente americano deve explicar o sistema de monitoramento utilizado pela NSA, mas ainda é uma incógnita se algum pedido de desculpas será feito por Obama.
Na última segunda-feira, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, foi chamado pelo ministro Luiz Alberto Figueiredo, das Relações Exteriores, para dar explicações sobre as denúncias. Figueiredo afirmou, após a conversa com Shannon, que o Brasil espera até o fim desta semana uma resposta por escrito com as explicações do governo americano. Até o momento, segundo o Itamaraty, a resposta não foi dada.
Nesta quinta-feira, o jornalista americano Glenn Greenwald, autor de reportagens sobre o sistema de espionagem montado pelo governo americano, publicou em seu perfil no Twitter que novas revelações devem ser feitas no próximo domingo.
Monitoramento
Reportagem veiculada no último domingo pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
De acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e do presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato à presidência daquele país quando o relatório foi produzido.
O nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP (código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos de mensagens ou ligações.
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.