Dilma diz que desemprego preocupa e que sofre preconceito

Em entrevista ao The Washington Post, a presidente afirmou que queda na aprovação de seu governo não a faz "perder os cabelos"

26 jun 2015 - 12h56
“Alguma vez você já ouviu alguém dizer que um presidente do sexo masculino coloca o dedo em tudo? Eu nunca ouvi falar disso”, disse Dilma
“Alguma vez você já ouviu alguém dizer que um presidente do sexo masculino coloca o dedo em tudo? Eu nunca ouvi falar disso”, disse Dilma
Foto: Francois Lenoir / Reuters

Às vésperas de viajar aos Estados Unidos a presidenta Dilma Rousseff deu uma entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post em que diz estar preocupada com o aumento do desemprego. Ela acredita na recuperação da economia a partir de 2016 e destacou que sofre preconceito de gênero na avaliação de sua administração.

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A entrevista foi concedida na quarta-feira (24), no Palácio da Alvorada, e publicada na noite de quinta-feira (25) no site do Washington Post.

Dilma defendeu o ajuste fiscal e disse que a mudança no rumo da política econômica do País não é uma decisão do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas de governo. “Estamos absolutamente certos de que é essencial colocar em prática todas as medidas necessárias, não importa quão duras elas sejam, para retomar as condições de crescimento no Brasil. Algumas medidas são fiscais, outras são estruturais”, disse a presidenta à jornalista Lally Weymouth.

Ela destacou que está preocupada com o aumento do desemprego, mas que uma taxa de desocupação entre 6% e 7% não é alta. “É claro que eu me preocupo com isso, me preocupei desde o primeiro dia. Houve um aumento do desemprego nos últimos dois meses. Mas antes disso, já tínhamos criado 5,5 milhões de empregos. Queremos realizar um ajuste rápido porque queremos reduzir o efeito do desemprego”.

Perguntada sobre a queda na aprovação de seu governo, cuja avaliação positiva caiu para 10%, segundo pesquisa Datafolha divulgada esta semana, Dilma afirmou que o tema a preocupa, mas não a faz “perder os cabelos”.

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“Você tem que conviver com as críticas e com o preconceito. Eu não tenho qualquer problema em assumir: quando se comete um erro, deve-se mudar. Em qualquer atividade, incluindo o governo, você deve incessantemente fazer ajustes e mudanças. Se você não fizer, a realidade não vai esperar por você. O que muda é a realidade”, frisou Dilma.

A presidenta também reclamou do que considera preconceito de gênero em algumas avaliações de sua gestão ao ser perguntada pela jornalista sobre sua fama de “micromanager”, termo para definir um chefe centralizador ou controlador.

“Alguma vez você já ouviu alguém dizer que um presidente do sexo masculino coloca o dedo em tudo? Eu nunca ouvi falar disso”, comparou. “Eu acredito que há um pouco de preconceito sexual ou um viés de gênero. Sou descrita como uma mulher dura e forte que coloca o nariz em tudo e estou cercada de homens meigos”, contestou.

Dilma também respondeu a perguntas sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Ela disse que não tinha conhecimento das denúncias quando era ministra de Minas e Energia e presidia o Conselho de Administração da estatal. A presidenta voltou a dizer que a investigação só foi feita em seu governo. “Você não costuma ver a corrupção acontecendo. Isso é típico de corrupção, ela se esconde”.

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Em relação a visita aos Estados Unidos, que inclui um encontro de trabalho com o presidente Barack Obama, Dilma disse que espera estreitar relações com o país nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, além de destacar que os Estados Unidos são os principais responsáveis pelo investimento privado no Brasil. “Esperamos também cooperação no campo da educação, principalmente no ensino primário”.

Dilma também defendeu a ampliação de cooperação com países emergentes, com o Mercosul como “uma grande conquista”, e disse que o Brasil tem uma “dívida social e cultural” com o continente africano.

“A África será sempre um continente onde teremos que desempenhar um papel ativo, porque temos uma dívida humana, social e cultural em relação a África. Cinquenta e dois por cento da população brasileira se declaram de origem negra. Somos o maior País negro fora da África. As nossas relações com a África são, em última instância, uma reabilitação da nossa história passada, considerando as práticas de escravidão que prevaleceu no nosso País desde o século 16. Este País viveu sob a escravidão até 1888, e deve superar a ferida histórica deixada pela escravidão”, avaliou.

A presidenta embarca no sábado para os Estados Unidos. A agenda inclui compromissos em Nova York com empresários; a reunião de trabalho com Obama, em Washington; e visitas a sede do Google, ao Centro de Pesquisas da Nasa e à Universidade Stanford, todos na Califórnia. Dilma deve retornar ao Brasil na manhã de quinta-feira (2/7).

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Agência Brasil
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