Mais de 600 mil brasileiros indignados pelo megaescândalo de corrupção na Petrobras saíram às ruas neste domingo em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades brasileiras para protestar contra o governo de Dilma Rousseff, embora o movimento não tenha superado em volume o do mês passado.
Ao menos 682.000 pessoas se manifestaram em 195 cidades do país, segundo polícia, enquanto que os organizadores calcularam em 1,5 milhão o número de manifestantes, segundo portal de notícias G1.
Em São Paulo, onde ocorreu o maior protesto do dia 15 de março, havia 275.000 nas ruas às 16h00, segundo a polícia. Os organizadores estimaram em 800.000 os manifestantes.
No mês passado, a polícia calculou, em todo país, dois milhões de manifestantes (sendo um milhão em São Paulo), uma cifra bem superior a deste domingo, mas o instituto Datafolha questionou esta cifra, calculando em 210 mil o número de manifestantes.
"Queremos abrir espaço à indignação do povo brasileiro (...) Nosso foco é que Dilma deixe o poder através de um processo dentro da lei. Pode ser sua renúncia ou um impeachment, mas que saia. Foi eleita em outubro, mas agora o povo quer sua saída", declarou à AFP Janaina Lima, 30 anos, porta-voz do movimento Vem Pra Rua, falando do alto de um caminhão de som que avançava pela Avenida Paulista.
Em Brasília, cerca de 25.000 manifestantes marcharam em um clima festivo e familiar, em meio a vendedores ambulantes de bandeiras e comida. A multidão é praticamente a metade da passeata anterior, segundo informou à AFP a Polícia Militar, apesar de os organizadores assegurarem a presença de 50.000 pessoas.
No Rio de Janeiro, dez mil pessoas protestaram em frente à ensolarada praia de Copacabana, um terço menos que em março passado.
"Viemos por tudo o que está acontecendo no Brasil e por este governo que não está fazendo nada. O povo tem que mostrar persistência e manifestar sua indignação e sua insatisfação", declarou à AFP uma manifestante brasiliense, Dianira Loubet, instrutora de ioga de 75 anos.
Como no protesto anterior, a maioria veste a camiseta amarela da seleção brasileira e reclama o 'impeachment' da presidente, que começou seu segundo mandato há pouco mais de três meses.
Uma pesquisa do Datafolha mostrou no sábado que 63% dos mais de 2.800 consultados apoiam a abertura de um julgamento político da presidente em função do caso Petrobras, apesar de também uma maioria (64%) achar que, ainda nesse caso, Dilma não será afastada do poder.
"Fora Dilma", "Fora PT", "A culpa é das estrelas" e "Governo de corruptos" são alguns dos cartazes exibidos. Um pequeno grupo exige uma intervenção militar, como aconteceu em 15 de março.
O carioca Thomaz Albuquerque, de 38 anos, disse haver razões políticas e legais para pedir o impeachment de Dilma, apesar de especialistas dizerem o contrário.
"Ela era presidente do conselho de administração da Petrobras durante a pior etapa do 'Petrolão'. Só isso já é suficiente", declarou.
Oito em cada 10 brasileiros acreditam que Dilma estava a par da corrupção dentro da Petrobras, segundo o instituto de pesquisas Datafolha, apesar de a presidente negar com veemência.
"O que queremos é que todo o Brasil saia às ruas. Não estamos aqui para quebrar recordes", afirmou Rizzia Arreiro, de 35 anos, integrante do movimento "Vem Pra Rua", um dos grupos que convocaram a manifestação.
"O principal objetivo é conseguir a destituição de Dilma, ou sua renúncia", afirmou o analista político Fabio Ostermann, um dos líderes do "Movimento Brasil Livre" (MBL), que também organiza os protestos.
"Sua omissão em relação ao escândalo da Petrobras a coloca em uma situação de muita irresponsabilidade", acrescentou Ostermann, um gaúcho de 30 anos, em entrevista à AFP.
"É muito difícil levar uma multidão às ruas todos os meses. Não é algo pequeno e a falta de uma liderança dificulta isso ainda mais", explicou à AFP André César, analista político de Brasília.
"Entre a marcha de 15 de março - que foi interessante e potente - e esta de hoje, o governo conseguiu conter algumas hemorragias. Deve estar respirando aliviado", observou.
Treze senadores, 22 deputados, dois governadores, o tesoureiro do PT e ex-funcionários são investigados pela corrupção na Petrobras que movimentou 4 bilhões de dólares na última década.
Dilma enfrenta também dificuldades nos campos político e econômico, com uma economia quase estancada e uma inflação que atingiu 8,13%.
Para tentar acalmar a tempestade política, ela concedeu ao seu vice-presidente, Michel Temer, do PMDB, principal aliado do governo na coalizão, o papel de articulador entre o governo e o Congresso, o que lhe rendeu fortes críticas segundo as quais ela não governaria mais.