O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) diplomou na manhã desta segunda-feira, 19, os candidatos eleitos pelo Estado nas eleições de outubro. Além do governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos), foram diplomados 94 deputados estaduais, 70 deputados federais e o senador Marcos Pontes (PL). A transmissão oficial optou em cortar o áudio com a reação dos presentes quando os nomes foram anunciados.
A cerimônia aconteceu na Sala São Paulo, no centro da capital paulista, e foi marcada por vaias aos candidatos bolsonaristas, aplausos para deputados da esquerda, mas também para Marcos Pontes e Tarcísio, e pela ausência de Carla Zambelli (PL). Nos últimos dias, parlamentares do PSOL pediram a cassação da colega após ela divulgar vídeo golpista.
"Pergunto aos senhores: dia primeiro de janeiro, senhores generais quatro estrelas, vocês vão querer prestar continência a um bandido ou à Nação brasileira? É hora de se posicionar. De que lado da história vocês vão ficar? Do lado da história que quer implantar o comunismo e tirar as nossas liberdades, ou do lado da história dos brasileiros que estão clamando 'Salvem as nossas almas', diante dos quartéis-generais?", declarou Zambelli em vídeo divulgado no final de novembro.
Tarcísio de Freitas, o vice, Felício Ramuth (PSD), foram aplaudidos quando chamados para receber os diplomas de governador e vice-governador, respectivamente. Os dois não fizeram nenhum discurso durante o evento.
Bolsonaristas vaiados
O deputado reeleito Eduardo Bolsonaro (PL), que não quis falar com a imprensa, foi um dos mais vaiados quando teve o nome anunciado. Mario Frias, ex-secretário especial da Cultura de Bolsonaro, Rosângela Moro (União Brasil), mulher do ex-juiz Sergio Moro, e Kim Kataguiri (União Brasil) também ouviram sonoras vaias.
Em conversa com o Terra, Mario Frias considerou as vaias como algo normal. "Vaiar faz parte, tem gente que gosta e gente que não gosta", declarou.
Ao ser questionado sobre como pretende governar para uma população ainda polarizada, Frias explicou que prefere ver o lado "positivo" da situação, "as pessoas estão entendendo mais o que é política". Segundo ele, "a obrigação do deputado, na minha opinião, é trabalhar para o povo".
Já Marcos Pontes, diplomado como senador, foi aplaudido e ouviu um "astronauta" clamado da plateia.
Base de Lula festejada
Deputados estadual e federal mais bem votados nas eleições, Eduardo Suplicy (PT) foi o primeiro parlamentar a ser diplomado. Na sequência, Guilherme Boulos (PSOL) recebeu o diploma para o mandato a partir de 2023. Os dois políticos apoiaram a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PL) para Presidência a República. Eles foram festejados pelos presentes na Sala São Paulo.
Quem ouviu muitos aplausos também foram nomes da esquerda, como a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-SP), Erika Hilton (PSOL), eleita a primeira deputada federal trans por São Paulo para o Congresso Nacional e Sônia Guajajara (PSOL), primeira deputada federal indígena eleita pelo Estado.
Reeleita deputada federal por São Paulo, Tabata Amaral (PSB-SP) esteve presente na cerimônia de diplomação e, ao Terra, a parlamentar falou sobre a expectativa para os próximos quatro anos de mandato no Congresso Federal.
"Acho que tem todo um contexto que faz o dia de hoje ser ainda mais especial, que é tudo que o Brasil viveu nos últimos quatro anos. Estou bem animada mas serão difíceis os próximos 4 anos. Acho que a gente vai ter muito mais espaço para dialogar e para construir. Então acho que é um pouco desse contexto do que foram os quatro anos de Bolsonaro e o que a gente pode fazer nos próximos quatro anos, então eu tô animada esperançosa."
Eleita deputada federal pelo Estado, Marina Silva também falou com a imprensa na entrada da cerimônia. A deputada agradeceu à população pelos votos e destacou a importância da pauta social e ambiental na sua futura legislatura.
"Em primeiro lugar, profunda gratidão à população do Estado de São Paulo que me concede a honra de trabalhar pelo estado e pelo Brasil em defesa do meio ambiente, do combate às desigualdades e em defesa da Democracia. É um momento muito difícil da história do nosso país, mas a sociedade brasileira já deu um forte sinal de que quer mudar essa triste realidade. A realidade dos mais de 120 milhões de brasileiros que estão em situação de penúria", afirmou.
Erika Hilton, que foi muito festejada pelos presentes na cerimônia de diplomação, celebrou a representatividade conquistada após as eleições deste ano.
"É um momento importante da virada da história do Brasil. Hoje teremos diplomadas aqui, muitas representações importantes para a democracia e para os novos processos que se iniciarão a partir da nova legislatura. Então a gente tá muito confiante, muito esperançosa e muito celebrativa. É a primeira vez que chegamos a esse lugar, mulheres indígenas, mulheres transexuais, mulheres negras, empregadas domésticas que começam a pautar a política do nosso país e a fazerem parte dos espaços de tomada de decisão. É um momento de muita celebração, de muita alegria e de muita emoção."
Ao Terra, Sônia Guajajara definiu sua diplomação como histórico. "É uma conquista, um novo momento para os povos indígenas no Brasil com a bancada do cocar eleita. Para nós é histórico. Vamos ocupar esse lugar no legislativo para que possamos fazer uma incidência maior para o cumprimento dos direitos conquistados e respeito ao modo de vida dos indígenas", contou.
O novo governo Lula contará com o Ministério dos Povos Originários. Sem o nome do futuro ministro revelado, Sônia explica que a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apresentou uma lista tríplice com indicados. "Os três nomes são apoiados pelo movimento indígena. Encaminhamos ao presidente (a lista) e agora aguardamos a decisão dele", afirmou.
Ao ser questionada sobre a prisão de José Acácio Serere Xavante, pela acusação de condutas ilícitas em atos antidemocráticos, a deputada foi clara. "O povo Xavante se colocou contra o que ele fez, então, quem somos nós para dizer que vamos estar de acordo", finalizou.
A diplomação realizada pelo TRE oficializa o resultado das urnas e o fim do processo eleitoral. Além de garantir a legitimidade para que o governador eleito possa tomar posse no dia 1º de janeiro de 2023.