Documentos do FBI mostram que Wassef recomprou relógio presenteado a Bolsonaro

Advogado disse que 'nunca viu' o general Lourena Cid e que está sendo vítima de um vazamento de informações sigilosas

23 nov 2023 - 20h58
(atualizado às 23h15)
O advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, é um dos investigados no caso das joias
O advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, é um dos investigados no caso das joias
Foto: Reprodução/Estadão

A Polícia Federal (PF) brasileira recebeu documentos do FBI que provariam que o advogado Frederick Wassef recomprou um relógio da marca Rolex dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para atender a um pedido de Mauro Cesar Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cesar Barbosa Cid.

Essas novas provas contradizem a versão do advogado. Ele afirmou que recomprou o artigo de luxo por livre e espontânea vontade. A existência dos documentos do FBI foi revelada pela GloboNews. Wassef admitiu que foi aos Estados Unidos para recuperar o relógio e que usou dinheiro vivo na transação. O bem está hoje em posse da União.

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"Não conheço o General Lourena Cid e nunca o vi em minha vida", disse Wassef ao Estadão. Ele também disse que os documentos do FBI não revelam nada que ele já não tenha admitido. "Alguém vem vazando informações de forma reiterada e criminosa, adicionando informações falsas para atingir a minha imagem e reputação", disse o advogado. Leia a íntegra da nota no final.

As diligências fazem parte de um acordo de cooperação internacional feito entre as polícias brasileira e estadunidense para investigar o caso das joias. A suspeita das autoridades é de que Bolsonaro coordenava e se beneficiava de um esquema de venda de joias, artigos de luxo e bens de alto valor que ele recebeu durante a sua passagem pela presidência.

O caso foi revelado pelo Estadão, que mostrou que o ex-presidente tentou várias vezes recuperar um conjunto de diamantes que ficou retido na Receita Federal do aeroporto de Guarulhos. As investigações foram se aprofundando e, até o momento, se depararam com a venda de dois kits de joias da marca suíça Chopard, duas esculturas douradas e um relógio da marca Patek Philippe.

Mauro Cid e o pai, Lourena Cid, seriam peças-chave do esquema. A PF interceptou uma conversa em que os dois organizam a avaliação de uma estatueta de outro que Bolsonaro ganhou em uma viagem à Arábia Saudita. O reflexo de Lourena Cid aparece na foto que ele tirou da caixa do objeto.

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O ex-ajudante de ordens foi preso em maio durante uma operação que investiga fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente e sua filha mais nova, Laura. Em setembro, ele fez um acordo de colaboração premiada que está em segredo de Justiça. Alguns trechos que vieram a público mostram que Mauro Cid teria confirmado detalhes sobre o caso das joias e que Bolsonaro tentou convencer os comandantes das Forças Armadas a dar um golpe de estado depois das eleições de 2022.

Advogado e amigo pessoal do clã Bolsonaro, Wassef é um dos investigados no caso das joias. Na operação da PF do dia 11 de agosto, os investigadores vasculharam endereços ligados a ele. As provas colhidas na investigação demonstraram a recompra do Rolex. Dias depois, em 17 de agosto, ele teve quatro celulares apreendidos pela Polícia Federal enquanto jantava em um restaurante de alto padrão no bairro do Morumbi, em São Paulo.

Relógio de pulso da marca Rolex recebido por Bolsonaro do regime da Arábia Saudita
Foto: Estadão / Estadão

Ele depôs sobre o caso à PF no dia 31 daquele mês. Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama, Cid pai, Cid filho, Jair Bolsonaro, Fábio Wajngarten, Marcelo Câmara e Osmar Crivellati também são investigados no caso.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, disse que confia "100%" na lealdade de Wassef. Ele advogou para o parlamentar no caso das "rachadinhas" - quando o "01? foi acusado de ter no seu gabinete de deputado estadual no Rio um esquema por meio do qual parte dos salários dos assessores voltava para ele. As provas dessa investigação foram todas anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

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Leia a íntegra da nota de Frederick Wassef

É absolutamente falsa e mentirosa a informação de que o FBI desmentiu Wassef, e que eles tenham documentos que mostram que o General Lourena Cid foi quem pediu para Frederick Wassef comprar o Rolex. Eu não conheço o General Lourena Cid e nunca o vi em minha vida. Jamais falei com ele e nem sabia da sua existência. Desafio a mostrarem qualquer documento ou prova. O FBI não descobriu nada de novo e apenas disse que eu comprei o Rolex, o que eu mesmo já havia informado 2 meses atrás em entrevista coletiva a todos canais de televisão. Logo, apenas apurou que eu falei a verdade, que eu tirei o dinheiro da minha conta em Miami e paguei com os meus próprios recursos de forma lícita. Não posso me manifestar além de restabelecer a verdade neste ponto, por estar o inquérito em segredo de justiça. Alguém vem vazando informações de forma reiterada e criminosa, adicionando informações falsas para atingir a minha imagem e reputação.

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