Na antevéspera das manifestações convocadas em várias capitais em defesa do ministro da Segurança Pública e Justiça, Sérgio Moro, o governador João Doria (PSDB) promoveu ontem (28), no Palácio dos Bandeirantes, uma cerimônia em homenagem ao ex-juiz e fez duros ataques ao PT. O tucano usou a agenda na sede do governo paulista, na qual entregou a Moro a primeira medalha da Ordem do Ipiranga de sua gestão, para tentar capitalizar o movimento em defesa da Operação Lava Jato e marcar posição diante dos eleitores de Jair Bolsonaro.
A Ordem do Ipiranga é a principal honraria do governo de São Paulo. O gesto ocorreu dias depois de o presidente admitir que pode disputar a reeleição em 2022 e tratar o governador paulista, que foi seu aliado na eleição do ano passado, como pré-candidato ao Palácio do Planalto.
Foi após discursar na Marcha Para Jesus, maior evento evangélico do País, em São Paulo, durante o feriado de Corpus Christi, que Bolsonaro falou pela primeira vez de forma explícita sobre a possibilidade de tentar um novo mandato. Ele condicionou uma eventual candidatura à reeleição à aprovação de "uma boa reforma política". "Agora, se não tiver uma boa reforma política e, se o povo quiser, estamos aí para continuar mais quatro anos."
A avaliação de aliados de Doria é que a manifestação do presidente antecipou o jogo eleitoral, algo que não interessa ao governador nesse momento. No discurso de ontem, porém, o tom foi justamente eleitoral. "É preciso deixar claro que foram os governos petistas que ajudaram e contribuíram para assaltar os cofres públicos e roubar a consciência dos brasileiros. O Brasil precisa de mais Moros e menos Lulas", afirmou o governador. A cerimônia reuniu o prefeito Bruno Covas, secretários e dezenas de aliados de Doria.
Questionado sobre o momento do evento - após a divulgação de mensagens atribuídas a Moro e procuradores da Lava Jato pelo site The Intercept Brasil -, o tucano desconversou. "A homenagem é atemporal. Ele merecia ontem e merece hoje", disse. Ao lado de Moro, o governador leu um discurso com o mesmo tom usado durante a campanha para governador.
"Se não fosse esse homem liderando um grupo de patriotas nós não teríamos a Lava Jato no Brasil. E não teríamos trancafiados em prisões aqueles que usurparam, enganaram, roubaram os brasileiros. Inclusive em São Paulo, haja visto que o triplex é em São Paulo e o sítio é em São Paulo", disse Doria.
Já Moro voltou a vincular a divulgação dos diálogos a um "ataque" à Lava Jato e disse que há uma "sombra de retrocesso" sobre a operação. Antes da homenagem, Moro e a mulher, Rosângela, participaram de um encontro privado com Doria, a primeira-dama do Estado, Bia Doria, o vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.