Desalojada do governo Lula para possibilitar o embarque de mais partidos do Centrão na Esplanada dos Ministérios, a ex-atleta e agora ex-ministra do Esporte Ana Moser afirmou nesta quinta-feira, 7, que sua saída foi uma decisão política e representa um "abandono do esporte". A declaração foi feita à CNN Brasil, em breve fala no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
"Foi uma decisão política, pena para o esporte. É pena para o esporte mesmo, é o abandono do esporte, mas faz parte da política", disse Moser, que será substituída pelo deputado federal André Fufuca (PP-MA), de 34 anos, próximo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente do PP, Ciro Nogueira, que faz oposição ao governo Lula.
Na quarta-feira, ao confirmar as escolhas de Fufuca e de Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) - que assumirá Portos e Aeroportos -, a nota do Palácio do Planalto não fez menção a Moser.
Também na quarta-feira ex-atleta já havia divulgado nota por meio de assessoria em que disse ver "com tristeza e consternação a interrupção temporária de uma política pública de esporte inclusiva, democrática e igualitária no governo federal". "Durante a conversa [com Lula] Ana Moser lamentou que as promessas de campanha, de um esporte para toda a nação, tenham tido tão pouco tempo para que se desenvolvessem na retomada da gestão do Ministério do Esporte voltada para a implementação de uma política que efetivasse o direito social à prática esportiva", afirmou ainda em nota.
Tensão em desfile
Após a demissão de Ana Moser, Lula se cercou das demais ministras do governo na tribuna de honra do desfile de 7 de Setembro. O local tinha espaço para 250 convidados, que ficam posicionados atrás de Lula e da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. As ministras, porém, passaram boa parte do desfile ao lado do casal presidencial e interagindo com ambos.
Lula e Janja mantiveram ao seu lado todas as ministras do governo: Nisia Trindade (Saúde), Marina Silva (Meio Ambiente), Simone Tebet (Planejamento), Margareth Menezes (Cultura), Anielle Franco (Igualdade Racial), Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Luciana Santos (Ciência), Cida Gonçalves (Mulheres) e Esther Dweck (Gestão e Inovação). A demissão de Ana Moser para acomodar um político homem foi criticada por grupos de sustentação do governo.
Durante o desfile, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, publicou uma nota destacando as competências da ex-ministra. A comunicação oficial de Lula, por sua vez, nem sequer mencionou o nome da ex-atleta.
"Com trajetória admirável, Ana Moser recuperou o papel social transformador do esporte em 8 meses de governo. Atuou incansavelmente pela valorização do futebol feminino e pela igualdade entre atletas mulheres e homens. Tenho certeza de que nos encontraremos em breve em futuras parcerias", escreveu a ministra Gonçalves.
Como mostrou a Coluna do Estadão, aliados da agora ex-ministra ficaram revoltados com a postura do governo. "Não agradeceram pelo trabalho. Lamentável. A ministra não merecia", comentou à Coluna uma das pessoas mais próximas da ex-atleta.
Lula repetiu com Ana Moser o roteiro que havia feito com Daniela Carneiro no Ministério do Turismo. Daniela foi demitida em julho em um movimento do Planalto para melhorar a relação com o União Brasil. O presidente disse que precisava do cargo e entregou a cadeira a um homem que antes apoiava Jair Bolsonaro, deputado Celso Sabino (União Brasil-BA).
*Com informações do Estadão Conteúdo