O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou nesta terça-feira carta enviada ao vice-presidente Michel Temer, na qual afirma que "eventuais dissonâncias fazem parte da harmonização da democracia que rege as instituições", após a troca de farpas entre ambos na semana passada.
Na ocasião, Renan afirmou que o PMDB não poderia fazer, no comando da articulação política do governo, o papel de "coordenador de RH". Temer assumiu, no mês passado, o comando da articulação política do governo da presidente Dilma Rousseff.
Em resposta, Temer divulgou nota sem citar o nome de Renan na qual afirmou que não usaria seu cargo para atacar autoridades de outros Poderes e que o "respeito institucional é a essência da atividade política".
Nesta terça-feira em carta a Temer, que também preside o PMDB, Renan disse que não rebateria o vice-presidente e voltou a dizer que não indicará nomes para ocupar cargos no governo.
"Não pretendo rebater a nota de Vossa Excelência para não promover escalada retórica incompatível com nossa função institucional. Vossa Excelência tem suas razões. Eu, as minhas. Mas acima de ambos está o país", escreveu Renan na carta a Temer.
"Sempre busquei ser um agente facilitador de soluções afinadas com o interesse público e participar do debate de maneira construtiva. Eventuais dissonâncias fazem parte da harmonização da democracia que rege as instituições."
Renan, que também é presidente do Congresso Nacional, reiterou que não indicará nomes para ocupar cargos no governo em nome da "independência" do Senado.
"Transmito a Vossa Excelência --o que já fiz à presidente da República-- que qualquer indicação para cargos do Executivo, atribuídas a mim, deve ser descartada", disse.
"A independência é condição indispensável para controle recíproco entre os poderes e não deve ser embaçada por ações incompatíveis com o exercício da presidência do Congresso Nacional."
No encerramento da carta, Renan disse desejar que Temer exerça a articulação política "com êxito" e disse se colocar à disposição "para apoiar iniciativas que engrandeçam a missão que desempenhamos".
Renan tem subido o tom contra o governo e contra Dilma após a troca de comando no Ministério do Turismo. Vinicius Lage, ligado a Renan e que assumiu a chefia de gabinete do presidente do Senado após deixar a pasta, foi substituído pelo ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, que contou com o apoio do atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Cunha e Renan também tiveram um embate em torno do projeto de lei que regulamenta a terceirização de mão de obra. Cunha é favorável ao projeto e patrocinou sua aprovação na Câmara. Renan, por sua vez, é contra a proposta.
(Por Eduardo Simões)