Na carta entregue em mãos à presidente Dilma Rousseff, o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, disse que o partido não é fisiologista e que é desapegado aos cargos que ocupa na estrutura do governo federal. A legenda vinha recebendo críticas por se manter em dois ministérios, além de cargos do segundo e do terceiro escalão, mesmo diante de uma potencial candidatura de Campos à Presidência da República - contra Dilma - no ano que vem.
"O Partido Socialista Brasileiro - que nunca se caracterizou pela prática do fisiologismo - reafirma seu desapego a cargos e posições na estrutura governamental, e reitera que seu apoio a qualquer governo jamais dependeu de cargos ou benesses de qualquer natureza, e sim do rumo estratégico adotado que, a nosso ver, deve guardar identidade com os valores que alicerçam a trajetória política do nosso Partido", afirma um trecho da carta.
De acordo com o Palácio do Planalto, Dilma se encontrou a sós com Eduardo Campos em uma conversa de aproximadamente 40 minutos. O encontrou sucedeu a decisão da executiva do PSB, que endossou a intenção do presidente do partido em devolver os cargos. A Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto se limitou a dizer que Dilma “recebeu o governador Eduardo Campos, recebeu a carta dele e voltou a sua agenda normal”.
"Esta decisão (de deixar o governo) não diz respeito a qualquer antecipação quanto a posicionamentos que haveremos de adotar no pleito eleitoral que se avizinha, visto que nossa estratégia - que não exclui a possibilidade de candidatura própria - será discutida nas instâncias próprias, considerando nosso programa e os mais elevados interesses do País e a luta pelo desenvolvimento com igualdade social", conclui a correspondência.
Ao longo do texto, Campos lembrou os feitos do PSB nas estruturas do governo Lula e Dilma. "O Partido Socialista Brasileiro, nos seus 60 anos de presença na vida política nacional, jamais transigiu ou negociou suas convicções e seus ideais programáticos", alegou a legenda.
Apesar da negativa explícita de Campos, entregar dois ministérios do seu partido é o gesto mais contundente de que o presidente do PSB deverá disputar eleição contra Dilma Rousseff. Governador de Pernambuco, o presidente do partido não é um pré-candidato muito conhecido no País, mas interlocutores dizem que sua tentativa ao Planalto pode preocupar Dilma, uma vez que ele potencialmente roubaria votos no Nordeste, onde a presidente é mais bem avaliada.
Leia a íntegra da carta que Eduardo Campos entregou a Dilma Rousseff:
À Sua Excelência Senhora Dilma Rousseff
Em mãos.
Senhora Presidenta,
Desde 1989, quando da criação da “Frente Brasil Popular”, o Partido Socialista Brasileiro integra, juntamente com o Partido dos Trabalhadores e outros do campo da esquerda, abase política e social que, durante as sucessivas eleições presidenciais de1989, 1994, 1998 e no segundo turno de 2002, apoiou e, finalmente, levou à Presidência da República, o companheiro Luís Inácio Lula da Silva, cujo governo contou com nossa participação, colaboração e sustentação, no Executivo e no Parlamento.
Convidado a ocupar funções governamentais, nosso Partido contribuiu para os avanços econômicos e sociais proporcionados ao País pelo governo do honrado Presidente Lula, dedicando seus melhores esforços e sua total lealdade nos momentos mais difíceis dos oito anos de mandato.
Em março de 2010, embora contássemos com um pré-candidato à presidência da República e fosse desejo manifesto de nossa base e das lideranças do partido o lançamento de candidatura própria, o PSB, a partir de uma profunda reflexão e discussão política com o companheiro Lula, abdicou dessa legítima pretensão e decidiuintegrar a frente partidária que apoiou a candidatura de Vossa Excelência à Presidência da República.
Quando da formação do governo, Vossa Excelência convidou-nos para discutir nossa participação,ocasião em que manifestamos a possibilidade de apoiar sua administração semnecessariamente ocupar cargos. Vossa Excelência, entretanto, expressou o desejo de quadros do PSB na Administração, com o que concordamos sem apresentar condicionantes.
Neste momento, temos sido atingidos, sistemática e repetidamente, por, comentários e opiniões, jamais negadas por quem quer seja, de que o PSB deveria entregar os cargos que ocupa na estrutura governamental, em face da possibilidade de, legitimamente, poder apresentar candidatura à Presidência em 2014.
Longe de receber tais manifestações como ameaça, o Partido Socialista Brasileiro - que nunca se caracterizou pela prática do fisiologismo - reafirma seu desapego a cargos e posições na estrutura governamental, e reitera que seu apoio a qualquer governo jamais dependeu de cargos ou benesses de qualquer natureza, e sim do rumo estratégico adotado que, a nosso ver, deve guardar identidade com os valores que alicerçam a trajetória política do nosso Partido. Nossas divergências, todavia, não impediram nosso apoio ao governo de Vossa Excelência, mas pretendemos discutir com a sociedade, de forma mais ampla e livre.
O Partido Socialista Brasileiro, nos seus 60 anos de presença na vida política nacional, jamais transigiu ou negociou suas convicções e seus ideais programáticos.
Com longa tradição na luta pela democracia e pela justiça social, o PSB participou ativamente de importantes momentos da vida nacional, como a memorável campanha do “petróleo é nosso”, a luta pela reforma agrária, a luta pelas "Diretas-já" e pelademocratização do País. Sempre nos inspiraram exemplos como os de nossos companheiros João Mangabeira, Hermes Lima, Barbosa Lima Sobrinho, Evandro Lins e Silva, Antônio Houaiss, Miguel Arraes e Jamil Haddad.
É justamente pelo apego a essa história que o partido, nos últimos anos, vem merecendo o reconhecimento da sociedade brasileira refletido no seu crescimento nas sucessivas vitorias eleitorais.
Por todas essasrazões, o PSB vem à presença de Vossa Excelência, formalmente, declinar de sua participação no Governo, entregando os cargos que ora ocupa, ao mesmo tempo em que reafirma que permanecerá, como agora, em sua defesa no Congresso Nacional. Esta decisão não diz respeito a qualquer antecipação quanto a posicionamentos que haveremos de adotar no pleito eleitoral que se avizinha, visto que nossa estratégia –que não exclui a possibilidade de candidatura própria –será discutida nas instâncias próprias, considerando nosso programa e os mais elevados interesses do País e a luta pelo desenvolvimento com igualdade social.
Saudações Socialistas,
Eduardo Campos
Presidente Nacional do PSB