Em uma carta escrita da prisão, o presidente nacional licenciado do PTB, Roberto Jefferson, afirma que o presidente Jair Bolsonaro capitulou "frente aos rosnados das bestas famintas de dinheiro público" e, por algum motivo, "fraquejou" após os atos de 7 de setembro. No texto dirigido ao advogado do partido, Jefferson declarou ainda que a legenda deverá buscar candidatura própria à Presidência da República e que sua intenção é de que atual vice-presidente, general da reserva Hamilton Mourão, seja o candidato.
O Estadão teve acesso a uma cópia do manuscrito de cinco páginas, escrito de uma das celas do Complexo Penitenciário de Bangu, onde o ex-deputado está detido. No texto, Roberto Jefferson avalia que Bolsonaro se rendeu ao Centrão e "tentou uma convivência impossível entre o bem e o mal".
Preso preventivamente por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em inquérito que investiga a atuação de milícias digitais contra a democracia, Jefferson declarou ainda que Bolsonaro deveria "peitar" inclusive seus filhos. "Se os filhos atrapalham, remova-os." Segundo ele, o presidente "era a ruptura", mas recuou.
"Não é fácil afastar um filho, sei a dor de afastar a Cristiane (Brasil). Mas o projeto político está acima das concessões sentimentais. Não se transige à tirania. Não se transige à opressão. Não se rende homenagens à ditadura, não se curva às ameaças dos arrogantes. Nosso edital sinalizará um novo caminho. 'A candidatura própria tem precedência sobre as demais'", diz outro trecho do texto.
"Bolsonaro cercou-se com viciados em êxtase com dinheiro público; Farias, Valdemar, Ciro Nogueira, não voltará aos trilhos da austeridade de comportamento. Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio", escreveu Jefferson. Ele teve seu mandato de deputado federal cassado em setembro de 2005, por sua participação no mensalão, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A carta aparentemente encerra um processo de aproximação entre o presidente da República e o PTB. Jefferson, que controla a sigla, abriu o partido para Bolsonaro. O clã presidencial, porém, fez exigências para ingressar na legenda - por exemplo, a indicação de candidatos majoritários em Estados-chave.