O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), classificou a segurança pública como “uma ferida aberta” ao comentar os desafios enfrentados pelo Estado. Sua declaração ocorre em um momento em que a Polícia Militar de São Paulo está no centro de uma série de escândalos envolvendo abusos de autoridade e letalidade.
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Em evento no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), nesta sexta-feira, 6, Tarcísio abordou a complexidade da segurança pública e revelou uma autocrítica sobre sua postura inicial em relação ao uso de câmeras corporais. Antes crítico da medida, o governador reconheceu o erro e destacou a importância da tecnologia para conter excessos.
“Hoje percebo que estava enganado. As câmeras ajudam o agente de segurança pública, são um fator de contenção e equilíbrio, e precisamos, sim, de contenção”, afirmou. "Às vezes, cometemos erros. Nosso discurso tem peso e, se erramos a mão no discurso, isso tem peso. Hoje, é fácil reconhecer isso”, complementou.
Ele também ressaltou a necessidade de “modular o discurso” para garantir tanto a segurança jurídica dos policiais quanto o cumprimento das normas e procedimentos operacionais.
Durante seu discurso, Tarcísio destacou que a insegurança atingiu níveis preocupantes, mencionando crimes patrimoniais e os “super difíceis de combater”, como feminicídios e estupros, muitas vezes ocorridos dentro de casa. Ele também abordou o impacto do crime organizado, que, segundo ele, ameaça transformar o Brasil em um “narco-Estado” caso não seja combatido com competência e coordenação.
“Estamos lidando com uma facção criminosa gigantesca, altamente hierarquizada e ousada, que já domina mercados internacionais e tem capacidade de lavar dinheiro em setores variados, como combustíveis, usinas de etanol e até contratos com prefeituras”, alertou o governador.
Desafios da segurança pública
O evento contou com a presença de especialistas e autoridades, como a professora Joana Monteiro, referência em estudos sobre violência, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann. A discussão girou em torno dos desafios no combate ao crime organizado, das políticas de prevenção à violência e da busca por integração entre os governos estaduais e federal.
A professora Joana Monteiro destacou a importância de políticas integradas para enfrentar os altos índices de criminalidade, mencionando a necessidade de uma abordagem mais humanizada no combate à violência doméstica e de um discurso público que fortaleça a confiança nas instituições.
Já o ministro Ricardo Lewandowski reforçou a urgência de modernizar e coordenar as ações de segurança pública entre os Estados e o governo federal. Ele defendeu uma maior troca de informações entre as esferas de poder e a criação de estratégias para fortalecer o combate ao crime organizado, sobretudo nas áreas de fronteira e nas redes logísticas críticas. Segundo ele, a solução passa pela colaboração entre as forças policiais, o sistema de Justiça e as autoridades políticas, com foco em medidas que tragam resultados sustentáveis a longo prazo.