Em meio a tragédia, Congresso mantém votações cruciais para esta terça

29 nov 2016 - 17h02
(atualizado às 17h28)
Casas do Congresso devem realizar votações nesta terça-feira
Casas do Congresso devem realizar votações nesta terça-feira
Foto: Agência Senado

Num momento em que as atenções do país estão voltadas para a tragédia da queda do avião que transportava o Chapecoense, o Congresso manteve votações importantes marcadas para esta terça-feira.

Na Câmara, está prevista a votação do controverso pacote de medidas anticorrupção. Já o Senado vai apreciar em primeiro turno a também polêmica proposta de emenda constitucional que prevê um teto de vinte anos para o crescimento dos gastos do governo federal, a PEC 55.

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Ambas as Casas realizaram um minuto de silêncio pelas vítimas.

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Entenda o que está em jogo em cada uma das votações e o que acontece caso as matérias sejam aprovadas.

Pacote anticorrupção

Esse pacote teve início com uma proposta apresentada pelo Ministério Público Federal que ficou conhecida como "dez medidas anticorrupção", que chegou à Câmara com apoio de mais de duas milhões de assinaturas.

Os deputados, porém, têm direito de debater as propostas e sugerir mudanças. E apesar do apoio popular, as medidas receberam também críticas de algumas entidades do meio jurídico, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que entendem que elas enfraquecem o direito à defesa.

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Uma das possíveis alterações cogitadas pelos deputados que causou maior polêmica nos últimos dias foi a tentativa de mudar a redação do projeto de lei que criminaliza o caixa 2 (movimentação irregular de dinheiro de campanha eleitoral) para anistiar crimes passados que já são puníveis por leis existentes, como corrupção e lavagem de dinheiro.

Mas no domingo o presidente Michel Temer anunciou, ao lado dos presidentes da Câmara e do Senado (Rodrigo Maia e Renan Calheiros), um acordo para barrar qualquer tentativa nesse sentido.

Apesar disso, o coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol, escreveu um longo texto em seu Facebook afirmando que outras mudanças propostas pelos deputados distorcem profundamente a proposta do Ministério Público Federal e, na prática, vão enfraquecer o combate à corrupção.

É o caso, por exemplo, da tentativa de fazer com que promotores e juízes possam ser punidos por crime de responsabilidade (mesmo processo de um impeachment presidencial), o que na prática permitiria que o Congresso condenasse esses agentes públicos.

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A proposta é vista como tentativa de intimidar a Lava Jato.

A PEC 241 prevê que os gastos do governo não poderão crescer acima da inflação
Foto: Agência Brasil

"Há mais retrocessos do que avanços (no texto final que deve ir à votação). Torna mais difícil lutar contra a corrupção, enfraquecendo as Instituições que têm corajosamente enfrentado esse grave problema brasileiro", escreveu Dallagnol.

A presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, também criticou nesta terça a proposta.

"Os juízes brasileiros tornaram-se nos últimos tempos alvos de ataques, de tentativas de cerceamento de atuação constitucional, e o que é pior: busca-se até mesmo criminalizar o agir do juiz brasileiro restabelecendo-se o que já foi apelidado de crime de hermenêutica (punição ao juiz por interpretar a lei) no início da República e que foi ali repudiado", afirmou.

Já parlamentares favoráveis à proposta dizem que o pacote de medidas de um lado limita o direito de defesa e por isso, para equilibrar, precisaria também prever punições para possíveis abusos do lado da acusação e dos julgadores.

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Deputados têm argumentado que as medidas sugeridas pelos procuradores receberam grande apoio popular porque as pessoas não estavam bem informadas sobre seus impactos sobre as garantias constitucionais de direito à defesa.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro engrossou a crítica da OAB às propostas e lançou um site com uma "análise crítica": o "10 medidas em xeque".

"O combate à corrupção não pode resultar da supressão de direitos previstos na Constituição. (…) A Defensoria Pública do Rio analisou o pacote de medidas e constatou que muitas implicam supressão de direitos e repercutem em toda a população", diz a instituição.

Parte das propostas controversas do Ministério Público Federal já foi retirada do pacote pelos deputados, como autorizar uso de prova ilícita e parte de uma série de restrições sugeridas ao uso do habeas corpus (recurso para solicitar liberdade de presos não condenados).

Se o pacote anticorrupção for aprovado, ele segue para ser votado no Senado possivelmente ainda esta semana. Por ser um projeto de lei, basta voto da maioria simples dos deputados e senadores para sua aprovação.

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PEC do teto

A PEC do teto dos gastos foi proposta pelo presidente Michel Temer, que defende a medida como crucial para tirar as contas públicas do vermelho, reestabelecer a confiança na economia e o país voltar a gerar empregos.

Desde 2014, o governo federal registra deficits bilionários, o que vai se repetir esse ano e, provavelmente, no próximo.

A proposta prevê que o crescimento anual dos gastos públicos ficará limitado à inflação do ano anterior por vinte anos, mas a PEC prevê uma janela para que a regra possa ser revista após um década.

Esse teto afeta apenas os gastos primários, ou seja, sem contar despesas financeiras como juros da dívida. A ideia é gerar anualmente um saldo (superavit primário) que permita manter o endividamento do governo brasileiro sob controle.

O limite proposto por Temer, no entanto, tem sido alvo de intensas críticas, inclusive de economistas liberais a favor do ajuste econômico.

Assessor parlamentar de senadores tucanos, o especialista em contas públicas Felipe Salto, por exemplo, escreveu um artigo junto com a economista Monica de Bolle intitulado "A PEC do Teto não é uma Brastemp".

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Eles consideram que a duração proposta para o teto, de vinte anos, é muito longa e deve criar superavits muito altos, além do necessário para manter o endividamento sob controle, já que a expectativa é que a inflação caia, reduzindo o patamar de reajuste dos gastos a cada ano.

O efeito prático disso é que o país destinará recursos demais para pagar juros, desviando investimento de outras áreas.

Dessa forma, defendem ajustes no texto proposto para evitar esse efeito. A base de Temer no Senado, porém, descarta qualquer alteração no texto já aprovado na Câmara, pois isso obrigaria que a proposta voltasse àquela casa e o governo tem pressa em aprovar a PEC.

Uma emenda constitucional só passa a valer depois de ser aprovada com texto idêntico por três quintos dos deputados e senadores, em dois turnos de votação em cada casa. Se a proposta for aprovada hoje, será novamente apreciada pelo Senado possivelmente dia 13 de dezembro.

Por outro lado, Salto e Bolle apontam como lado positivo a ideia de que um teto forçará o Estado a ser mais eficiente com seus gastos e alocar melhor os recursos.

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Já a oposição, liderada por parlamentares do PT, PC do B, PSOL e Rede, sustenta que a PEC provocará uma grande redução do Estado brasileiro, reduzindo gastos em saúde e educação.

PEC 55 é uma das apostas da equipe econômica chefiada por Henrique Meirelles
Foto: Agência Senado

Senadores desses partidos vão solicitar que a votação de hoje seja adiada devido à tragédia do Chapecoense, mas sabem que o pedido não será aceito pela maioria.

Esses parlamentares defendem que o ajuste fiscal deveria ser feito não só com corte de gastos, mas também com aumento de impostos sobre os segmentos mais ricos da população.

O presidente, no entanto, sempre rechaça qualquer possibilidade de elevar tributos, sob a justificativa de que a carga tributária do país já é alta.

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Mas até mesmo Armínio Fraga, economista ligado ao PSDB e que vinha se posicionando contra novos impostos, disse ao jornal Valor Econômico nesta semana que a medida pode ser necessária, assim como uma redução de desonerações (isenções fiscais).

"Teríamos um programa muito mais robusto de enfrentamento da crise se o governo não estivesse deixando parte importante do ajuste (fiscal) para o futuro", afirmou.

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