O documento da Polícia Federal obtido pelo Terra, que trata das investigações sobre um grupo de militares especializados em Forças Especiais (FE), que teria planejado um golpe de Estado em 2022 e até mesmo a execução do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria envolvido na cronologia dos crimes.
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De acordo com a PF, a análise dos dados armazenados no aparelho celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, revela que o ex-presidente não apenas tinha conhecimento da minuta golpista, mas também participava ativamente da redação e ajustes do documento.
Em uma troca de mensagens entre Cid e o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirma que o ex-presidente "enxugou" a minuta golpista e também que estava sendo pressionado por deputados e por parte do agronegócio para "tomar uma medida mais pesada utilizando as forças [armadas]."
Confira na íntegra a mensagem obtida pela PF abaixo:
“Boa tarde, General! Só para atualizar, o que vem acontecendo é o seguinte: o presidente tem recebido várias pressões para tomar uma medida mais pesada, onde ele vai, obviamente, utilizar as forças, né? Mas ele sabe, ele ainda continua com aquela ideia que ele saiu da última reunião. A pressão que ele recebe é de todo mundo: é cara do agro, são alguns deputados, né? A pressão que ele tem recebido é muito grande. Hoje, o que ele fez de manhã? Ele enxugou o decreto, aqueles considerandos que o senhor viu, e fez um decreto muito mais resumido, né? E o que ele comentou de falar com o General Theóphilo? Na verdade, ele quer conversar, ele gosta de bater papo, né? Acho que, de alguma forma, como ele está sem sair do Alvorada, como ele está preso no Alvorada, ali, é uma maneira que ele tem de desopilar ou de tocar para frente. Porque, se a força não incendiar, o status quo se mantém aí como o que estava previsto, que estava sendo feito, que estava sendo levado nas reuniões em consideração, tá? Sim, é, mas obviamente tem muita gente..."
Segundo a Polícia Federal, houve uma reunião em 9 de dezembro de 2022 entre o então presidente Jair Bolsonaro e o General Estevam Theophilo, comandante do Comando de Operações Terrestres (COTER). Nesta reunião, discutiu-se o apoio militar necessário para a execução do golpe, com a condição de que Bolsonaro assinasse o decreto que vinha sendo ajustado, embora não se contasse com a adesão do General Freire Gomes, que era o Comandante do Exército.
"Mensagens encaminhadas por Mauro Cid para o general Freire Gomes, então comandante do Exército, sinalizaram que o então presidente Jair Messias Bolsonaro estava redigindo e ajustando a minuta do ilegal decreto golpista e já buscando o respaldo do general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, tudo a demonstrar que atos executórios para um golpe de Estado estavam em andamento", diz a PF no documento obtido pelo Terra.
Além disso, segundo os policiais federais, a análise de dados do celular de Mauro Cid revelou que, poucos dias após Bolsonaro fazer alterações na minuta de decreto para o golpe, ele e Marcelo Câmara trocaram mensagens indicando que acompanhavam ações de monitoramento do Ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época.
Esse monitoramento foi liderado pelo General Mário Fernandes, com o objetivo de detê-lo ilegalmente e até mesmo de assassiná-lo, apontam os investigadores. O relatório da PF destaca que o plano era mais amplo e envolvia também a eliminação da chapa presidencial eleita, composta por Lula e Geraldo Alckmin.
O Terra entrou em contato com a assessoria de Bolsonaro, mas não obteve nenhum retorno até a última atualização desta reportagem.