O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, está se divertindo com as especulações sobre uma possível candidatura sua à Presidência da República e negou disputar o cargo nas eleições deste ano.
"Estou me divertindo com isso", disse Barbosa, na saída de um colóquio no Conselho Constitucional da França, em Paris, onde está em visita oficial.
Sua possível candidatura ao Palácio do Planalto chegou, inclusive, aos ouvidos da ministra da Justiça da França, Christine Taubira, que questinou o magistrado sobre o assunto, durante um encontro entre ambos, na última quarta-feira.
"A Taubira e os outros falaram disso. Eu não tenho pesquisa nenhuma, não sou candidato, não estou preocupado com isso", afirmou o presidente do STF, bem-humorado.
Barbosa tem fama de ser truculento com a imprensa, mas nesta manhã aceitou falar com os jornalistas que o aguardavam na saída do colóquio. O magistrado só fechou a cara quando foi abordado o suposto mal-estar entre seus colegas do STF. Uma situação que teria sido motivada pelo fato do presidente da corte ter saído de férias sem expedir o mandado de prisão contra o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP).
"Eu não estou preocupado com nada disso", disse Barbosa, em Paris, onde participou do colóquio organizado pela Universidade Sorbonne.
Na última quarta-feira, o ministro já havia dito que não expediu o mandado de prisão contra João Paulo Cunha por “falta de tempo”. No último dia 6, logo após assinar a decisão de prender o parlamentar, Barbosa tirou férias da presidência do STF e deixou o País.
O magistrado também negou que as prisões dos condenados no julgamento do mensalão estejam sendo realizadas em conta-gotas, ao lembrar que 12 condenados já foram para a cadeia.
"Cada caso é um caso. Nós estamos analisando a vida de pessoas e eu não cuido só disso", afirmou o presidente do STF, antes de garantir aos jornalistas que não tem lido nenhum jornal brasileiro desde o início de suas férias.
Sem paciência com os assuntos ligados ao noticiário brasileiro, Barbosa evitou, ainda, comentar a atitude do ex-ministro e ex-presidente do STF Nelson Jobim.
Jobim doou R$ 10 mil para ajudar a pagar a multa à qual foi condenado o ex-deputado José Genoíno (PT-SP), por seu envolvimento no mensalão. Perguntado a respeito, Barbosa respondeu com uma careta.
Vítima do sucesso
Apesar de não querer tocar no assunto com os jornalistas, durante sua apresentação no colóquio desta manhã, o presidente do STF explicou a uma plateia lotada a relação entre a imprensa e os juízes da mais alta corte brasileira.
Barbosa falou sobre a TV Justiça e a transmissão de sessões importantes na corte - como a que tratou do aborto ou do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ao comentar a grande audiência e repercussão registradas nessas ocasiões, o magistrado afirmou que o STF é "vítima de seu sucesso".
No entanto, mesmo defendendo o papel da TV Justiça na cobertura dos trabalhos do STF, Barbosa disse acreditar que a grande quantidade de jornalistas cobrindo o Supremo diariamente é uma das causas de "especulações" sobre questões pessoais dentro do tribunal.
"Para o que diz respeito ao conteúdo das decisões, infelizmente, eu diria que a imprensa não é mais a mesma em contar o essencial das decisões", lamentou o magistrado.
Mas Barbosa não se ateve apenas à imprensa, ao falar da relação entre a mídia e o tribunal. O presidente do STF lembrou que os onze ministros que compõe o tribunal devem dar prova de contenção, para que, segundo ele, "triunfe a colegialidade sobre a individualidade".
Joaquim Barbosa está em visita oficial a Paris desde a última quarta-feira e deixará a capital francesa na próxima segunda, quando segue para Londres, onde cumpre agenda oficial.
Em Paris, além do colóquio desta sexta-feira e a reunião com a ministra Taubira, o presidente do STF teve encontros com acadêmicos na Universidade Sorbonne. O ministro não terá compromissos oficiais no fim de semana.