O empresário Emanuel Catori, sócio da empresa Belcher, confirmou nesta terça-feira em depoimento à CPI da Covid no Senado ter participado de reunião no Ministério da Saúde agendada pelo líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).
O empresário sustentou que na reunião, que teria ocorrido em abril, a Belcher não representava a Cansino, farmacêutica chinesa responsável pela vacina Convidecia.
"Há relatos de que o Ministro Marcelo Queiroga teria me recebido dia 15 de abril na qualidade de representante da CanSino, acompanhado do deputado Ricardo Barros, sem registro na agenda. Essa informação não é verdadeira. Reitero que a Belcher não representava a CanSino nessa data. A Belcher obteve a carta de autorização da Anvisa apenas em... a carta de alteração da CanSino apenas dia 19 de abril", disse, explicando que o contato formal entre Belcher e a pasta para tratar da vacina Convidecia ocorreu a partir do e-mail enviado pela farmacêutica em 12 de maio, resultando em uma reunião presencial em 19 de maio.
"Em 15 de abril, eu participei de uma audiência coletiva no ministério promovida pela Frente Parlamentar de Medicamentos, que é presidida pelo deputado Ricardo Barros. Na reunião, havia outras seis empresas, e não tratava de vacinas, muito menos da Convidecia", acrescentou o depoente.
Catori também admitiu conhecer o advogado Flávio Pansieri, advogado de Ricardo Barros, segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o que configura "mera coincidência", segundo o empresário.
De acordo com a Agência Senado, Pansieri foi sócio do genro de Barros até março deste ano, e participou de reunião na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre uso emergencial da Convidecia. Ainda assim, Catori sustentou que Barros não atuou como "facilitador político" para a compra da vacina.
"O deputado Ricardo Barros não fez gestões com órgãos neste sentido. Não há vínculo comercial ou societário direto ou indireto da Belcher ou seus sócios com o parlamentar. Ele não iria receber valores pelo sucesso da negociação da Convidecia. A Belcher não o procurou nas tratativas com vacinas. Participação zero. Em nenhum momento ele me ajudou em nada sobre a vacina", afirmou.
Segundo a Agência Senado, quando o encontro de abril ocorreu no Ministério da Saúde, já havia sido assinado um termo de confidencialidade entre o empresário e a farmacêutica chinesa CanSino para a venda da vacina Convidecia no Brasil.
Ainda de acordo com a agência, Cartori negou ter negociado a venda do imunizante com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já que não possuía carta de autorização da CanSino. O empresário disse ter tratado da venda do antiviral Favipiravir, mas a afirmação foi questionada pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Renan Calheiros (MDB-AL).
O senador considerou haver uma "contradição muito grande" no depoimento de Cartori e, ainda segundo a Agência Senado, "um envolvimento muito sério" do líder do governo na Câmara.
"É a repetição do modus operandi na aquisição de vacinas pelo governo federal. Recusou contatos com a Pfizer e com o Butantan, enquanto priorizou atravessadores como Belcher, Davati e Ricardo Barros. Enquanto brasileiros morriam e continuam a morrer. O senhor tenta passar a ideia de que, no encontro com Ricardo Barros, não poderia ter tratado da questão, uma vez que a CanSino não havia credenciado a Belcher. Mas não é verdade. Já havia uma carta de confidencialidade", disse Renan.
Em publicação no Twitter, Barros afirmou que "mais uma pessoa que vai a CPI e diz que não tenho relação alguma com a negociação de vacinas".
"Todos negaram minha participação. A CPI só tem versões sem provas. Resta aos senadores da oposição a bravata, o ataque à honra e a falta de respeito. Estou tranqüilo", postou o líder do governo.