Entenda a crise em torno de Daniela Carneiro, ministra do Turismo apoiada por chefe de milícia

Apoios políticos envolvendo a ministra e seu marido, Wagner Carneiro, prefeito de Belford Roxo, têm causado a primeira crise do governo Lula e ruído com União Brasil

6 jan 2023 - 12h24
(atualizado às 20h39)
Ministra do Turismo, Daniela Carneiro
Ministra do Turismo, Daniela Carneiro
Foto: Poder360

O anúncio do nome de Daniela Carneiro para assumir o Ministério do Turismo do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva causou alvoroço nas redes sociais. Um dos motivos foi a origem da ministra: Belford Roxo, cidade da Baixada Fluminense. O segundo foi o apoio que a deputada federal recebeu durante as eleições de 2022: de famílias de milicianos do Rio de Janeiro.

O primeiro destaque de apoio foi da ex-vereadora Giane Prudêncio, mulher de Juracy Alves Prudêncio, o Jura - condenado e preso por chefiar uma milícia na Baixada Fluminense há pelo menos quatro anos. A ex-vereadora fez campanha para Daniela em 2018 e 2022. Essa ligação foi apontado nas redes sociais como uma demonstração da proximidade da família Waguinho com milícias da região.

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Jura cumpre pena de 26 anos de prisão - atualmente, em regime semiaberto - pelos crimes de associação criminosa e homicídio. O miliciano chegou a ser nomeado na prefeitura de Belford Roxo, chefiada pelo marido de Daniela, prefeito Wagner Carneiro (União Brasil), para um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana, em agosto de 2017.

Um mensagem de WhatsApp flagrada pela reportagem do Estadão mostrou que Daniela atribuiu a inimigos que desejam "queimá-la" a suspeita de que mantém elo político com um miliciano. "Inimigos querendo me queimar, mas não irão conseguir", escreveu.

Outros familiares de milicianos indicaram manter relação com o casal Daniela e Waguinho. A irmã e o pai do terceiro-sargento bombeiro Márcio Pagniez, o Marcinho Bombeiro, acusado de integrar uma milícia na Baixada Fluminense, foram nomeados na prefeitura liderada por Waguinho. As nomeações ocorreram em dezembro de 2021 e agosto de 2022; a condenação do ex-militar foi em 2019. Os parentes de Marcinho também apoiaram a campanha da ministra.

O suposto terceiro apoio seria de um atuante direto e ativo da campanha de Daniela: o vereador Fábio Augusto de Oliveira Brasil, o Fabinho Varandão (MDB), réu na Justiça fluminense pela acusação de também comandar uma milícia na Baixada Fluminense.

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Tanto Daniela quanto o seu marido Wagner foram alvos de diferentes investigações do Ministério Público nos últimos anos - a lista de supostos irregularidades e crimes inclui nepotismo, abuso de poder político e econômico em disputas eleitorais, organização criminosa, concussão, fraude em licitações, dispensa ilegal de licitações e peculato.

Em conversas reservadas, o presidente Lula avaliou não haver fatos que desabone a ministra, mesmo com os apoios que ela tenha recebido de milicianos durante campanhas. O Estadão apurou que uma ala do próprio União Brasil, partido de Daniela, quer trocá-la porque ela não foi uma indicação da bancada da Câmara. O nome da ministra foi sugerido pelo presidente do União, deputado Luciano Bivar (PE), e pelo senador Davi Alcolumbre (AP).

Para tomar distância de crise, integrantes da cúpula do União Brasil alegam que a escolha de Daniela para o ministério partiu do próprio Lula, que desejava retribuir o apoio que recebeu dela e do marido durante a campanha, e que o seu nome não foi uma escolha da sigla.

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