Entenda como suspeita de fraude em cartões de vacina envolve 'troca de favores' relacionada a caso Marielle

Repórter explica em podcast como ações fraudulentas investigadas estão relacionadas ao inquérito do assassinato da vereadora

4 mai 2023 - 13h00
(atualizado às 13h27)
O vereador Marcello Siciliano
O vereador Marcello Siciliano
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil / Estadão

A investigação da Polícia Federal sobre uma suposta fraude nos cartões de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro, sua família e assessores, tem entre os alvos o ex-vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano (Progressistas). O ex-político também já foi investigado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, apesar de atualmente não ser tratado como suspeito ou investigado nos homicídios. A informação é do podcast O Assunto

Segundo Bruno Tavares, repórter da TV Globo, explica em entrevista a Natuza Nery, Siciliano teria sido procurado pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, para emitir um certificado falso de vacinação por Duque de Caxias, município do Rio de Janeiro. Cid foi um dos seis presos na Operação Venire, deflagrada na quarta-feira, 3.

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Conforme o jornalista apurou com a PF, o documento solicitado pelo ex-auxiliar de Bolsonaro seria para a esposa dele, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, e funcionaria para Siciliano como uma "troca de favores". Isso porque a PF teria descoberto um pedido de ajuda de Marcello Siciliano para "resolver um problema com o visto de entrada nos Estados Unidos", por meio de uma conversa interceptada entre Mauro Cid e o militar da reserva Ailton Barros

De acordo com o jornal O Globo, na ocasião Mauro Cid teria sido acionado para ajudar Siciliano a ter uma conversa com o cônsul dos Estados Unidos, para que conseguisse a liberação de um visto americano. A tentativa inicial havia sido vetada, por seu suposto envolvimento no assassinato de Marielle.

Em contrapartida, o parlamentar intermediaria o registro de forma fraudulenta das doses de vacina contra covid-19 em nome da mulher do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. 

"Ailton Barros solicitou que Mauro Cid intermediasse um encontro de Marcello Siciliano com o Cônsul dos Estados Unidos no Brasil para resolver um problema relacionado ao seu visto de entrada no referido país, devido o envolvimento de seu nome com o caso do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco. Inclusive, em uma das mensagens enviadas a Mauro Cid, Ailton Barros afirma saber quem teria sido o mandante do crime", diz o relatório da PF, conforme divulgado por O Globo

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Em 2018, uma testemunha apontou Siciliano como mandante do crime contra a vereadora. Ele chegou a ser alvo de mandados de busca e apreensão, mas negou envolvimento no homicídio. Atualmente, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro não o tratam como suspeito ou investigado no caso.

Entenda a operação da PF contra Bolsonaro

Segundo investigação da Polícia Federal, um médico a prefeitura da cidade de Cabeceiras, em Goiás, preencheu o cartão de vacinação contra a covid-19 para Bolsonaro, sua filha Laura, o ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid, e a esposa dele. Após o preenchimento do cartão, o grupo tentou registrá-lo no sistema eletrônico do SUS em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, para que ele pudesse ser considerado oficial e valer, por exemplo, em viagens internacionais.

Ainda de acordo a PF, o sistema rejeitou as informações, pois o lote de vacinas em questão havia sido enviado para Goiás, e não para o Rio de Janeiro, como havia sido informado. Foi então que começou a troca de mensagens entre Mauro Cid e seus ajudantes, o que acabou resultando na operação desta quarta-feira.

Por meio dessas mensagens, a PF descobriu que eles precisavam obter outro número de lote de vacinas, desta vez do Rio de Janeiro, para realizar o registro. As informações são da jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo.

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Com o registro do cartão de vacinação, o grupo baixou os arquivos, imprimiu os cartões e, em seguida, os excluiu do sistema. Dessa forma, se alguém buscasse pelos registros de vacinação do grupo no sistema eletrônico, não encontraria nada.

Somente após ter acesso às mensagens de Cid e realizar uma perícia no sistema, a PF descobriu a adulteração. Até então, não se tinha conhecimento de que Jair Bolsonaro e sua filha também haviam registrado cartões falsos.

Registros de vacinação haviam sido identificados em janeiro

Meses antes da Polícia Federal deflagrar a Operação Venire, que investiga a inserção de dados falsos em carteiras de vacinação contra a covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde, um cientista de dados havia identificado os registros da suposta vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e compartilhado as 'coincidências' em perfil no Twitter.

Este é Marcelo Oliveira, programador que atua no Infovid - grupo de pesquisadores que busca divulgar e desmistificar ao público em geral dados da covid-19. A partir do vazamento de um cartão de vacinação atribuído a Jair Bolsonaro, Marcelo conseguiu encontrar o ID de paciente do ex-presidente, investigou e chegou às duas doses da Pfizer registradas no Rio de Janeiro, que foram tidas como invalidadas. Estes dados nunca estiveram sob sigilo.

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Ele relembra ter pensado que poderia ser algum problema na base de dados e que acabou deixando a questão de lado. "Mas sempre ficava na minha cabeça: 'Tem alguma coisa aí'", contou ao Terra.

Paralelamente, a Polícia Federal investigava o caso e chegou às mesmas conclusões iniciais do programador. O inquérito veio a público neste mês de maio, também revelando supostos registros de vacinação no nome de Laura Firmo Bolsonaro, filha do ex-presidente. 

Quais os crimes que Bolsonaro e aliados podem ter cometido

A operação que prendeu Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), investiga um suposto esquema de inserção de dados falsos em carteiras de vacinação contra a covid-19, em sistemas do Ministério da Saúde. Intitulada de Venire, a ação realizada pela Polícia Federal foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, dentro do inquérito das 'milícias digitais'.

Caso sejam confirmadas as suspeitas, os envolvidos podem responder por:

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• Crimes de infração de medida sanitária preventiva;

• Associação criminosa;

• Inserção de dados falsos em sistemas de informação;

• Corrupção de menores. 

A ação desta quarta-feira, 3, não tinha como foco a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, seis pessoas foram presas, entre elas:

• Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro; 

Max Guilherme, ex-sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e segurança do ex-presidente;

• Sergio Cordeiro, também segurança de Bolsonaro;

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• João Carlos de Souza Brecha, secretário municipal de Saúde de Duque de Caxias (RJ).

Fonte: Redação Terra
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