O risco de envolvimento das Polícias Militares em manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro e o apoio a medidas antidemocráticas deixou os governadores apreensivos, e a necessidade de garantir uma atuação "nos limites da lei" das polícias estaduais foi um dos temas presentes na ata da reunião de segunda-feira, em Brasília.
"Com efeito, faz-se mister reafirmar o compromisso dos governadores no sentido de zelar para que a missão das policias estaduais ocorra nos limites constitucionais e da lei, como se tem verificado na história do país desde a promulgação da Constituição de 1988", diz a ata assinada por representantes de 25 Estados.
O tema foi levado ao encontro pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que no mesmo dia havia afastado o chefe do Comando de Policiamento do Interior-7 da Polícia Militar do Estado, coronel Aleksander Lacerda, por ter sido descoberto convocando para as manifestações de 7 de setembro, ao mesmo tempo em que atacava Doria, parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal.
"Se já não bastassem as ameaças cada vez mais crescentes à democracia nas últimas semanas, teremos nesse mês de setembro manifestações, não apenas exercendo direito de se manifestar contra ou a favor. Mas manifestações ruidosas, para colocar em risco a democracia", disse Doria ao comentar o caso de Lacerda.
Há um temor entre os governadores de que as PMs estaduais sejam usadas para tentar fomentar uma ruptura política em favor de Bolsonaro. Em vários grupos policiais, Bolsonaro, que faz questão de tentar beneficiar a categoria, é visto como um ídolo.
No encontro, os governadores acertaram pedir um encontro a Bolsonaro, assim como com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, em uma tentativa de distensionar o ambiente. Um ofício foi enviado ainda na segunda ao Palácio do Planalto, mas não houve resposta.
Entrou nessa lista de reuniões também os comandantes das Forças Armadas, em uma proposta do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para um "chamado à paz" e à democracia.
O temor maior dos governadores no momento é pelas manifestações marcada por bolsonaristas para 7 de setembro. Incentivadas desde o início pelo próprio presidente, que já anunciou que irá nos atos de Brasília e São Paulo. As manifestações que começaram como uma defesa do voto impresso descambaram, nas redes bolsonaristas, para ameaças de invasão ao Congresso e ao STF e, inclusive, convocação de que as pessoas compareçam armadas.