Até outro dia a novela política brasileira era — exaustivamente, aliás — comparada a "House of Cards", a série da Netflix em que o vice-presidente conspira pelo cargo mais alto da República. Mas a lista de protagonistas que podem "morrer" a qualquer momento fez com que a comparação subisse alguns degraus na escala de sanguinolência.
"Na saga brasileira, assim como em Game of Thrones, não se apegue aos personagens”, avalia o banco francês Natixis. O relatório, que faz referência ao hábito do autor da saga, George R. R. Martin, de matar seus personagens principais. é assinado pelos economistas Juan Carlos Rodado, Yuze Yuan e Nicolas Castex. Segundo eles, após passar com folga na Câmara, o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff também deve prosseguir no Senado.
A expectativa é de que a votação, que pode afastar Dilma por 180 dias aconteça no próximo dia 11 de maio. Levantamentos apontam que o número de votos favoráveis ao impedimento aumenta lentamente e já chega a 51, enquanto são necessários 41, frente 21 senadores contrários, no levantamento da Folha de S.Paulo.
Ainda assim, lembra o Natixis, a recessão e a corrupção espalhada por toda a classe política fortaleceram um movimento contrário a qualquer salvador da pátria. E, além disso, a presidente Dilma, que ainda gozava de uma imagem relativamente limpa, cavou a sua própria cova ao escolher políticas econômicas equivocadas e ao agir de maneira arrogante.
O que vem por aí?
Os economistas ressaltam que, neste momento do jogo político, a ideia de resistir ao impeachment com a lógica de chamá-lo de golpe parece um pouco tardia. “Um cenário que parece estar ganhando terreno é o de uma nova eleição (com a de 2014 anulada)”, ressalta o banco.
Nesta alternativa, aponta o Natixis, tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ex-senadora Marina Silva (Rede) parecem ter vantagem. “A falta de legitimidade do novo presidente [Michel Temer] reforça a probabilidade de novas eleições, o que sugere que a série ainda não acabou”, destacam os economistas.
Para o Natixis, independentemente de quem ficar com o trono de ferro, uma coisa é certa: cortes de juros serão necessários para reacender o crescimento enquanto o ajuste fiscal é uma questão pendente.