Em reação ao presidente Jair Bolsonaro, o governo dos Estados Unidos afirmou nesta terça-feira, dia 19, que as eleições brasileiras servem como modelo para o mundo. Como o Estadão antecipou, o governo Joe Biden preparava uma resposta à ofensiva diplomática de Bolsonaro, que reuniu cerca de 70 embaixadores na véspera para minar a confiança no sistema de votação adotado no País, sem que nenhuma fraude tenha sido comprovada na história, ao contrário do que o presidente afirma.
"As eleições brasileiras conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo", diz a nota divulgada pelos Estados Unidos.
Mais cedo, entidades de classe da Polícia Federal também vieram a público em resposta às teorias divulgadas por Bolsonaro, sem base nos fatos. A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal e a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais afirmaram, por meio de nota, que as "urnas eletrônicas e o sistema eletrônico de votação já foram objeto de diversas perícias e apurações por parte da PF e que nenhum indício de ilicitude foi comprovado nas análises técnicas".
A reação de Biden foi discutida pela diplomacia norte-americana ao longo do dia, em contatos entre Washington e Brasília. O encarregado de negócios da embaixada, Douglas Koneff, participou do encontro dos chefes de missão diplomática com Bolsonaro, no Palácio da Alvorada. Ele não havia se manifestado ainda sobre a apresentação, que também não foi referida na nota do Departamento de Estado.
O tom do comunicado reitera manifestações de autoridades da Casa Branca e do Departamento de Estado anteriores, além do próprio presidente Joe Biden, em "total confiança" nas eleições brasileiras. O governo Biden sustenta que o presidente Jair Bolsonaro prometeu, em diálogo entre os dois ocorrido em junho, respeitar o resultado das urnas em outubro e pressiona que ele cumpra a palavra.
Em junho, quando viajou a Los Angeles para a Cúpula das Américas e se reuniu em privado com Biden, Bolsonaro pediu ajuda ao norte-americano para enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência da República, segundo a agência Bloomberg. O presidente sugeriu que Lula seria um entrave a interesses americanos. O governo brasileiro negou o pedido. A Casa Branca afirmou apenas que Bolsonaro prometeu respeitar o resultado, durante a conversa com Biden.
Orientados por seus governos, embaixadores em Brasília mantiveram discrição sobre o encontro e suas impressões a respeito do discurso de Bolsonaro. Agora, como já houve tempo de os diplomatas relatarem o ocorrido, por telegramas ou telefonemas, às respectivas capitais, a postura começou a mudar. Ao Estadão, embaixadores afirmaram que Bolsonaro não sustentou sua argumentação em provas cabais de fraude e, portanto, não conseguiu convencê-los sobre a fragilidade da votação no País.
Leia a íntegra da nota divulgada pela assessoria de imprensa do Departamento de Estado e pela Embaixada dos Estados Unidos:
"Como já declaramos anteriormente, as eleições do Brasil são para os brasileiros decidirem. Os Estados Unidos confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O país tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores.
As eleições brasileiras conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo.
Estamos confiantes de que as eleições brasileiras de 2022 vão refletir a vontade do eleitorado. Os cidadãos e as instituições brasileiras continuam a demonstrar seu profundo compromisso com a democracia. À medida que os brasileiros confiam em seu sistema eleitoral, o Brasil mostrará ao mundo, mais uma vez, a força duradoura de sua democracia."