O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró negou nesta quarta-feira qualquer intenção de enganar a presidente Dilma Rousseff na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, aprovada em 2006 quando a mandatária presidia o Conselho da Petrobras. Cerveró disse que as cláusulas contestadas por Dilma não têm relevância na decisão pelo negócio, que custou ao todo U$S 1,2 bilhão à empresa brasileira.
“Essas cláusulas não têm essa representatividade no negócio. A apresentação que foi feita (ao conselho) busca destacar os principais aspectos no negócio e não é importante do ponto de vista negocial, da valorização do negócio, nem uma cláusula nem outra”, disse Cerveró em audiência na Câmara dos Deputados. “Como os senhores viram, apresentei o trabalho para aquisição. Não houve nenhuma intenção de enganar ninguém, não há nenhum sentido de enganar a ninguém”, acrescentou, depois de detalhar a compra da unidade da belga Astra Oil.
Ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró foi apontado como responsável por ter elaborado o resumo que embasou a compra da refinaria de Pasadena pelo Conselho de Administração da Petrobras em 2006, então presidido por Dilma Rousseff. Segundo a versão sustentada pela petista e pela presidente da estatal, Graça Foster, o conselho só aprovou o negócio porque não foi informado de duas cláusulas do contrato.
Naquele ano, a Petrobras autorizou a compra de 50% da refinaria por US$ 360 milhões. A aplicação da cláusula put option, que segundo Dilma não constava no resumo de Cerveró, levou a Petrobras a comprar, em 2008, os 50% restantes da refinaria, em um negócio que custou US$ 1,2 bilhão, diante de um desacordo entre as partes.
Para o ex-diretor, a cláusula é "uma prática mais do que comum". "Cláusulas de saída são para os dois lados, em que se estabelece defesas (...) para evitar que um sócio imponha condições em desfavor do outro", disse. "Petrobras tem centenas de participações, no mundo inteiro, sempre tem cláusulas de saída. (...) Não é relevante, porque ninguém faz uma sociedade para sair da sociedade", completou.
Compra de Pasadena seguia estratégia da Petrobras
Durante a apresentação, Cerveró disse que a compra de Pasadena acompanhava uma estratégia da Petrobras e não pode ser considerado um negócio malfadado ou desastroso. Segundo ele, o projeto de investimento na unidade que estava previsto não foi concluído.
“O que não posso aceitar é que seja colocada repetidas vezes que essa operação é malfadada. Esse projeto não foi completado, conforme estava previsto”, disse.
Como a companhia brasileira pretendia processar petróleo pesado na refinaria do Texas, buscava investir US$ 2,3 bilhões para chegar a uma média de 200 mil barris por dia. O investimento, no entanto, não foi aceito pela alta diretoria da Astra Oil. A Petrobras, então, decidiu comprar os outros 50% da unidade por US$ 798 milhões.
Aproveitando uma visita do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Escandinávia, o presidente da Petrobras à época, José Sérgio Gabrielli, encontrou-se com o CEO da Astra e fez a oferta. Em 2012, um acordo extra-judicial fez a Petrobras adquirir a outra parte por US$ 820 milhões. “O que prova que não houve nenhum erro de cálculo”, disse o ex-diretor, ao comparar os valores.
Cerveró ocupava a diretoria financeira da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, até a divulgação da nota da presidente Dilma Rousseff. Ele foi demitido dois dias depois. Ontem, Graça Foster disse, no Senado, que a ida de Cerveró para a BR Distribuidora foi uma espécie de rebaixamento do executivo com a compra polêmica de Pasadena. Ele negou ter sido punido pelo negócio.
A presidente da Petrobras disse ainda que apurações internas da Petrobras indicam que a Astra Oil gastou pelo menos US$ 360 milhões para comprar Pasadena da americana Crown Central Petroleum, mas admitiu que a estatal brasileira fez um mau negócio. Ela reconheceu US$ 530 milhões em perdas com a refinaria.
Cerveró corrige advogado
O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, afirmou no início do mês que os conselheiros da Petrobras, entre os quais a presidente Dilma, receberam com 15 dias de antecedência o contrato de compra da refinaria. No mesmo dia, a presidente Dilma Rousseff mandou o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Thomas Traumann, negar aos jornalistas a informação.
Hoje, Cerveró disse que os dados sobre a compra foram encaminhados com "um prazo anterior" para a diretoria, que posteriormente encaminharia os documentos para o conselho, mas não deu detalhes. "Essa questão de tempo hábil é muito relativa. É uma coleção enorme de documentos, são milhares de páginas. Depois de aprovado pela diretoria, é encaminhado, mas o prazo que chegou no conselho eu não sei", disse.