Ex-ministro admite possibilidade de "ter recebido" empresário que falou de pedido de propina em pneu

Milton Ribeiro diz que pode ter conhecido Ailson Souto da Trindade, mas nega proposta de propina e tenta livrar Bolsonaro de suspeitas em inquérito sobre corrupção no MEC

23 set 2022 - 21h16

BRASÍLIA - O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro admitiu que pode "ter conhecido" o empresário Ailson Souto da Trindade, que declarou ao Estadão ter recebido sinal verde do então chefe da pasta para negociar propina com os pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura. Integrantes do "gabinete paralelo" do MEC, os religiosos teriam proposto um contrato fictício para reformas de igrejas, em troca de uma propina de R$ 5 milhões, valor que deveria ser enviado dentro de um pneu de caminhonete de Belém a Goiânia, onde está a sede da Assembleia de Deus - Ministério Cristo para Todos.

"A uma semana (da eleição) apareceu um empresário que eu posso ter conhecido. Tirei foto com muita gente. Inclusive, posso ter recebido ele lá no MEC. Mas imagina se eu, na presença de outras pessoas, eu ia fazer proposta para vir dinheiro dentro de roda de carro. É uma calúnia. Nunca pedi uma coisa dessas", disse Ribeiro, nesta sexta-feira, 23, ao site O Antagonista.

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Trindade disse ao Estadão que o então ministro autorizou a tratativa com os pastores e foram eles que propuseram o valor e a ocultação da propina em um pneu. O ex-ministro quebrou o silêncio após o caso vir à tona às vésperas das eleições e ter potencial de afetar a campanha de Jair Bolsonaro em um momento no qual o presidente está estagnado nas pesquisas de intenções de voto.

Ministro da Educação, Milton Ribeiro, diz não ter recebido aviso de Bolsonaro sobre ação da Polícia Federal Foto: Dida Sampaio/ Estadão

Nas declarações, o ex-ministrou buscou livrar Bolsonaro. O inquérito que apura corrupção no MEC foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) depois de uma suspeita de interferência do presidente no caso. Em um telefonema para uma de suas filhas, grampeado pela PF, Ribeiro disse ter recebido uma ligação de Bolsonaro na qual os dois teriam tratado de ação policial.

"Eu queria preparar (as filhas) para uma possível entrada ou pedido de intervenção policial em casa, como de fato aconteceu. Se eu cometi um erro nesse episódio, esse foi meu erro", disse. "Não recebi ligação nenhuma do presidente. Falei isso para prepará-las."

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O ex-ministro disse não saber o que acontecia fora do seu gabinete e alegou não ter proximidade com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Ambos o acompanhavam em agendas e levavam prefeitos ao gabinete dele em Brasília. Prefeitos relataram ao Estadão que os religiosos pediam até propina em barra de ouro para liberar verbas da pasta para construção de escolas.

"Sempre respeitei tanto o Arilton quanto o Gilmar pelo fato de eles serem pastores. Mas eu não tinha proximidade nenhuma, não os conhecia", afirmou Ribeiro. "Esses pastores tinham alguns, que eu me lembre, ao menos dois ou três prefeitos que pertenciam à denominação deles (Assembleia de Deus - Ministério Cristo para Todos), lá no interior de cidades do Norte e Nordeste. E aí eles julgavam ou achavam que poderiam fazer essa intermediação."

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