Marcelo Calero, que pediu demissão da Cultura na semana passada, afirma em depoimento à PF que presidente o "enquadrou" para atender interesse pessoal de colega de gabinete. Temer confirma conversa, mas nega pressão. O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusou o presidente Michel Temer, em depoimento à Polícia Federal, de tê-lo pressionado para que interviesse junto a um órgão vinculado à pasta a fim de favorecer um interesse pessoal do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.
Calero pediu demissão do Ministério da Cultura na sexta-feira passada e, no sábado seguinte, prestou depoimento aos investigadores. O conteúdo foi divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo somente nessa quinta-feira (24), sendo depois confirmado por outros veículos da imprensa brasileira.
Em entrevista ao mesmo jornal após sua saída, Calero disse que o principal motivo da demissão foi a pressão que sofreu de Geddel para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concedesse licença para a construção de um edifício de luxo em Salvador no qual Geddel comprou um imóvel. A obra foi embargada pelo órgão nacional por ser incompatível com a região.
No depoimento à PF, o ex-ministro afirmou que Temer o convocou para comparecer no Palácio do Planalto e, nessa reunião, reforçou a pressão de Geddel contra ele.
"O presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado 'dificuldades operacionais' em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado", diz a transcrição do depoimento enviado ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral da República.
Temer teria então pedido a Calero para que "construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à Advocacia-Geral da União (AGU), porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução", aponta outra trecho do depoimento, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
Segundo o ex-ministro, o peemedebista disse que "a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão". Calero, que afirmou ter ficado "desapontado" com o fato de o próprio presidente tê-lo "enquadrado", teria então dito a Temer que "não se sentia à vontade para tomar qualquer decisão naquele processo". "A única saída foi apresentar seu pedido de demissão", afirma outro trecho do depoimento.
Nesta quinta-feira, após a divulgação das declarações, o presidente admitiu que tratou duas vezes com Calero sobre o caso, na tentativa de "arbitrar conflitos" entre o então ministro da Cultura e Geddel, mas negou tê-lo "enquadrado" no intuito de uma intervenção junto ao Iphan.
"O presidente trata todos seus ministros como iguais. E jamais induziu algum deles a tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções", destacou o porta-voz de Temer, Alexandre Parola.
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