Ex-operador do PSDB teria lavado propinas comprando mansão

Segundo a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza lavou ao menos US$ 430 mil

4 set 2020 - 16h16
(atualizado às 16h19)

Segundo a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza lavou ao menos US$ 430 mil em propinas da Odebrecht com a compra de uma mansão no condomínio Iporanga, no Guarujá. A aquisição foi declarada em R$ 1 milhão, ainda que o imóvel estivesse avaliado em mais de R$ 2,9 milhões.

O ex-presidente da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, em 2011
O ex-presidente da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, em 2011
Foto: Evelson de Freitas / Estadão Conteúdo

A denúncia apresentada contra o suposto operador do PSDB no Estado nesta quinta, 3, indica que os US$ 430 mil foram repassados para o casal que estava vendendo a casa por meio de oito transferências no exterior que foram operacionalizadas por Rodrigo Tacla Duran, operador financeiro da empreiteira para transações fora do país.

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Paulo Vieira de Souza chegou a ser condenado a 145 anos de prisão por supostos desvios de R$ 7,7 milhões que deveriam ser aplicados na indenização de moradores impactados por obras do Rodoanel Sul, mas a sentença foi anulada em dezembro do ano passado. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, ele teve a prisão preventiva convertida em prisão domiciliar.

De acordo com a nova denúncia da Lava Jato, o ex-diretor da Dersa teria utilizado duas empresas da família - o hotel Giprita Ltda e a P3T Empreendimentos e Participações - para ocultar a origem de valores e bens ilícitos por ele angariados em esquemas ilícitos envolvendo as obras do Rodoanel Sul e do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo. Paulo Vieira de Souza teria recebido propinas em troca de renegociação de contratos e direcionamento de licitações.

A compra do imóvel no condomínio Iporanga, no Guarujá, teria mais uma das transações feitas por Viera de Souza para ocultar valores 'provenientes de crimes de cartel, corrupção, fraude a licitação e peculato', segundo a força-tarefa da Lava Jato. "Parte substancial dos valores ilícitos usados na compra do imóvel passou por camadas de lavagem, de maneira a viabilizar a conversão desses recursos em um ativo lícito imobilizado dotado de expressivo valor de mercado", registra denúncia apresentada nesta quinta, 3.

Segundo o documento, os US$ 430 mil em propinas foram repassados ao casal que estava vendendo a mansão no Guarujá em menos de um mês, entre 28 de março e 16 de abril de 2012, partindo de uma offshore para contas mantidas pelos vendedores do imóvel na China e na Suíça. As transferências variavam de US$ 30 a 60 mil e foram registradas em e-mails, planilhas e swifts do sistema Drousys, do famoso Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht.

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A Procuradoria indica ainda que 25% do imóvel foi adquirido por meio de recursos ilícitos inseridos fraudulentamente no faturamento do Hotel Giprita, da família do ex-diretor da Dersa. A denúncia registra que para justificar o pagamento dessa parcela da mansão pelo estabelecimento, Paulo Vieira Souza teria celebrado um contrato simulado de empréstimo no valor de R$ 150 mil.

O que chamou a atenção da Lava Jato paulista foi o fato de que a quitação do empréstimo se deu mediante dois depósitos em dinheiro de R$ 75 mil em favor do hotel que foram realizados pouco mais de um mês depois da assinatura do acordo.

O Hotel Giprita também aparece da denúncia como um dos meios supostamente utilizados por Paulo Vieira de Souza para a lavagem de propinas, com a emissão de registros fictícios de hospedagem.

Notas fiscais apreendidas o estabelecimento recebeu R$ 1,3 milhão por reservas feitas em nome do próprio hotel. Os depósitos teriam sido realizados entre 2016 e 2019 e apontavam para situações suspeitas, como uma reserva de apenas oito minutos que custou R$ 4,3 mil e foi paga em dinheiro.

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