Ex-secretário de Segurança afirma que grilagem era principal motivação de morte de Marielle, e não crime de ódio

No depoimento, general relatou que, logo após o crime, a principal linha de investigação já apontava para grilagem de terras em Jacarepaguá

11 out 2024 - 16h38
(atualizado às 17h09)
General Richard Nunes ao prestar depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF)
General Richard Nunes ao prestar depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF)
Foto: Reprodução

O depoimento do general Richard Fernandez Nunes ao Supremo Tribunal Federal (STF) acrescentou informações que reforçam a linha de investigação da Polícia Federal a respeito da motivação do assassinato de Marielle Franco, como apontou o jornal O Globo. 

Em março de 2018, durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, Richard ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública e foi convocado como testemunha de defesa do ex-chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa. Segundo o general, "Ronnie Lessa já era um dos alvos desde o início da investigação". Lessa confessou ser o autor dos disparos que mataram Marielle e o motorista Anderson Gomes. 

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No depoimento, o general relatou que, logo após o crime, a principal linha de investigação apontava para a grilagem de terras em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O general mencionou que Marielle tinha atuação relevante na área, o que poderia ter gerado animosidade contra ela.

"A atuação da vereadora Marielle Franco naquela área poderia ter contribuído para gerar esse tipo de animosidade", disse ele, que afirmou que a hipótese de crime de ódio, inicialmente considerada, foi rapidamente descartada. "Eu acredito que, um mês após o crime, já não falávamos mais sobre isso", explicou o oficial.

Em outro ponto do depoimento, o promotor Olavo Evangelista Pezzotti questionou o general sobre a escolha de Rivaldo Barbosa como chefe da Polícia Civil, mesmo diante das informações de que o delegado poderia utilizar o cargo para obtenção de vantagens financeiras. Richard declarou que, em 2018, "não viu incompatibilidade" para a nomeação, apesar das denúncias. Ele destacou o papel de Rivaldo na administração anterior e afirmou que ser chefe da Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro era uma função de grande relevância.

Richard também citou o envolvimento do policial militar Rodrigo Ferreira, conhecido como Ferreirinha, desafeto de Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, apontado como miliciano da Zona Oeste. Ferreirinha havia mentido ao afirmar que escutou uma conversa entre o ex-vereador Marcello Siciliano e Curicica sobre o planejamento do assassinato de Marielle Franco. A Polícia Federal descobriu  essa mentira, acusando Ferreirinha de atrapalhar o andamento das investigações.

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Segundo o general, tanto Rivaldo Barbosa quanto o delegado Giniton Lages recomendaram cautela em relação a Ferreirinha, que foi apresentada ao caso por três delegados da Polícia Federal que não participavam diretamente das investigações.

"As razões [da recomendação] foram justamente a maneira como Ferreirinha foi inserido, o modo como ele se apresentou, sugerindo que poderia causar mais complicações do que soluções", afirmou Richard.

Diante dessa resposta, o oficial destacou outra inconsistência nas investigações conduzidas por Giniton, que, publicamente, parecia ter descartado Ferreirinha somente após uma ligação anônima, feita em outubro, para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), informando que um "perneta", identificado posteriormente como Ronnie Lessa, seria o responsável pelos disparos que mataram Marielle.

A defesa de Rivaldo Barbosa, que está sendo acusado pela Polícia Federal como mentor intelectual do duplo homicídio, solicitou o depoimento do general. Como Richard não compareceu espontaneamente, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou sua intimação.

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Além de Rivaldo, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e deputado federal, respectivamente, também são réus no processo. O ex-delegado Giniton Lages, que comandou as investigações iniciais, não foi denunciado, mas é apontado pela Polícia Federal como responsável por dificultar o andamento das apurações.

Em nota ao jornal O Globo, a defesa de Rivaldo Barbosa afirmou que "o general Richard deixou bem claro que nunca se aprofundou nas investigações porque não era atribuição dele". A defesa ainda reforçou que a tese de crime de ódio "nunca foi descartada" pelos investigadores ou pelo Ministério Público. Segundo a defesa, a fala do general sobre grilagem de terras foi baseada em discussões realizadas durante as primeiras reuniões sobre o caso.

Fonte: Redação Terra
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