Exército não celebra aniversário do golpe de 1964 após fim de gestão Bolsonaro

Ordens do Dia alusivas ao 31 de março durante o governo Bolsonaro defendiam a ditadura e classificavam como 'marco para a democracia'

31 mar 2023 - 19h23
(atualizado às 19h45)
Exército não celebra aniversário do golpe de 1964 após fim de gestão Bolsonaro
Exército não celebra aniversário do golpe de 1964 após fim de gestão Bolsonaro
Foto: Reprodução

O Exército Brasileiro retomou neste ano a prática de não divulgar a Ordem do Dia com nota alusiva ao 31 de março, data marcada pelo golpe de 1964, que deu início à ditadura militar no Brasil. A definição havia sido dada pelo novo comandante da Força, o general Tomás Paiva, que teria alegado que "o normal" seria não existir esse documento.   

Em nota enviada ao Estadão, o Exército confirmou que não houve "comemoração ou ato oficial relativo ao 31 de março de 1964?. A prática tinha sido inicialmente interrompida durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), mas foi retomada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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Em 2019, o então presidente determinou ao Ministério da Defesa que fizesse as "comemorações devidas" do golpe de 1964. Por quatro anos, então, o Exército Brasileiro passou a divulgar uma Ordem do Dia na data em questão, relembrando a ditadura a partir de dois vieses: de que o evento só pode ser compreendidos a partir do contexto da época e de que a função das Forças Armadas foi assumir a responsabilidade de pacificar o País com apoio da sociedade, dos empresários e da imprensa.

Confira o histórico

2019

Assinada pelo então Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e pelos três comandantes das Forças Armadas, a primeira Ordem do Dia do Exército no governo de Bolsonaro não classificava o regime militar como uma ditadura que se originou de um golpe de Estado. "As Forças Armadas participam da história da nossa gente, sempre alinhadas com as suas legítimas aspirações. O 31 de Março de 1964 foi um episódio simbólico dessa identificação", disse.

O texto ainda insere o golpe de 64 em um ambiente mundial de "avanço de ideologias totalitárias", cita o comunismo e o nazifascismo como "faces de uma mesma moeda" e defende que "contra esses radicalismos, o povo brasileiro teve que defender a democracia com seus cidadãos fardados". Em outro trecho, eles afirmam que o apoio popular incentivou a atitude dos militares. "As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo."

Por fim, a Ordem do Dia afirma que "as lições aprendidas com a história foram transformadas em ensinamentos para as novas gerações."

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2020

No ano seguinte, a Ordem do Dia alusiva ao dia 31 emitida pelo Ministério da Defesa definiu o golpe militar como um "marco para a democracia" e justificou o episódio como uma reação do Brasil "às ameaças que se formavam àquela época". O documento repetiu a ideia já comentada em 2019 sobre avanço ideologias totalitárias. Em um outro trecho, como justificativa do golpe, a Ordem do Dia repete que ação dos militares teve apoio da sociedade brasileira, dos empresários e da imprensa.

A carta ainda diz que uma das consequências do golpe foi o Brasil ter alcançado a posição de oitava economia do mundo. "O Brasil evoluiu, tornou-se mais complexo, mais diversificado e com outros desafios. As instituições foram regeneradas e fortalecidas e assim estabeleceram limites apropriados à prática da democracia", disse.

O texto finaliza afirmando que o golpe de 1964 foi um marco para a democracia brasileira por ter evitado avanços de "sonhos utópicos com promessas de igualdades fáceis". "Os países que cederam às promessas de sonhos utópicos, ainda lutam para recuperar a liberdade, a prosperidade, as desigualdades e a civilidade que rege as nações livres."

2021

No terceiro ano do governo Bolsonaro, a Ordem do Dia alusiva ao dia 31 defendeu que a "liberdades democráticas que hoje desfrutamos" foram conquistadas a partir do momento em que as Forças Armadas assumiram "a responsabilidade de pacificar o País" por meio do golpe de 1964.

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Assinado pelo general Braga Netto, o documento define a ditadura como uma "transição sólida, enriquecida com a maturidade do aprendizado coletivo" que fez o País multiplicar suas capacidades e mudar de estatura.

A diferença dos documentos anteriores foi que, em 2021, o Ministério da Defesa adicionou lideranças políticas e igrejas como apoiadores do golpe junto com a imprensa, o segmento empresarial e outros setores da sociedade.

2022

Em ano eleitoral, a Ordem do Dia alusiva ao dia 31 de março classificou a ditadura como um "marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época" e defendeu a necessidade de ter "isenção e honestidade de propósito" para analisar e compreender o episódio.

Em comparação com o texto do ano anterior, o novo documento ainda adiciona mais apoiadores do golpe: as famílias, políticos e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo", disse. Para se justificar, a Ordem diz que os fatos podem ser comprovados com a cobertura jornalística da época.

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Em outro trecho, o ministério defende que os resultados desse episódio foram um "legado de paz, de liberdade e de democracia' que devem ser reconhecido.

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