RIO - O Exército vetou a realização de um seminário organizado por um grupo conservador no Clube dos Sargentos e Subtenentes de Curitiba, no Paraná. A organização se estrutura para criar um partido político e planejava um evento com "atividades político-partidárias" no fim deste mês no local.
Apesar de não ser diretamente ligado à estrutura das Forças Armadas, o Clube dos Subtenentes e Sargentos arrenda uma área militar sob o comando do Exército. De acordo com o Comando Militar do Sul, o clube "não se trata de uma unidade militar", mas mantém um contrato de arrendamento que prevê a proibição de atividades políticas nas dependências da organização.
"O Clube dos Subtenentes e Sargentos é uma entidade civil com CNPJ próprio. Embora arrende uma área militar, não se trata de uma unidade militar. No entanto, no Estatuto do Clube, submetido ao Exército no ato do arrendamento, consta que não podem ser executadas quaisquer atividades político-partidárias no local", informou o Comando Militar do Sul.
"Ao tomar conhecimento da intenção da atividade para a qual haviam sido locadas as dependências do Clube, o Comando da Guarnição de Curitiba entrou em contato com a Diretoria solicitando que fosse respeitado o Estatuto, de forma a não ocorrer esse tipo de atividade nas dependências do Clube", completou.
O contrato do clube sobre o imóvel da União está vigente até março de 2025. O evento do grupo estava marcado para o dia 24 de janeiro e previa palestras de nomes como o influenciador Marco Antônio Costa e o presidente nacional do Conservador, José Carlos Bernardi.
"Nós, conservadores, não temos um partido que nos represente. Nem um ao menos. Diante disso, vamos nos unir e construir o 'Partido Conservador Brasileiro'. O Conservador, como será identificado nosso partido, está em processo de formação", diz o grupo em seu site em busca de apoio.
Procurado pelo Estadão, José Carlos Bernardi diz que o grupo avalia outras opções de locais para a realização do evento, que está mantido.
De acordo com o site do grupo, o partido em formação é contra o "aborto", "a liberação das drogas", "o comunismo e o socialismo", "a ideologia de gênero", "a dominação ideológica da máquina pública", "o controle das redes sociais", "a invasão de propriedades privadas" e "o ativismo judicial".
Bernardi foi alvo de um procedimento no Ministério Público de São Paulo após afirmar que o Brasil enriqueceria "se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles".
A declaração ocorreu durante um programa na Jovem Pan. Durante diálogo com a comentarista Amanda Klein, após ela dizer que desejava que o Brasil chegasse ao desenvolvimento econômico da Alemanha, Bernardi afirmou: "É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha pós-guerra".
Após as reações, Bernardi divulgou nota pedindo desculpas pelo comentário. "Peço desculpas pelo comentário infeliz que fiz no jornal da manhã, primeira edição, ao usar um triste fato histórico para comparar as economias brasileira e alemã. Fui mal-entendido. Não foi minha intenção ofender a ninguém, a nenhuma comunidade, é só ver o contexto do raciocínio. Mas, de qualquer forma, não quero que sobrem dúvidas sobre o meu respeito ao povo judeu e que, reitero, tudo não passa de um mal-entendido", diz o texto divulgado à época.