As fake news, para o empresário e marqueteiro político André Torretta, não são sinônimo de mentira. Para ele, as notícias falsas não passam de uma cortina de fumaça, pelo menos no ponto de vista da propaganda e estratégia política. “Elas (fake news) foram a invenção mais maravilhosa do mundo”, diz. “Foram feitas apenas para despistar e mudar o tom da conversa pública.”
A desinformação, a serviço do mundo eleitoral, segundo Torretta, é mais um formato publicitário. “O ‘kit gay’, por exemplo, foi a propaganda mais criativa do Brasil”, afirma. “Isso não teria saído de nenhuma agência.” Para ele, o sucesso da campanha do então candidato Jair Bolsonaro se apoiou em mensagens engraçadas e chamativas. “É isso que as pessoas compartilham. É uma mensagem direta e simples, que todo mundo consegue entender.”
Marqueteiro político há mais de 30 anos, Torretta ficou em evidência antes das eleições gerais de 2018. No início do ano passado, o empresário fez uma parceria com a empresa de análise de dados Cambridge Analytica, que trabalhou na campanha eleitoral de Donald Trump para presidente dos EUA em 2016, e se envolveu em uma polêmica por ter utilizado os dados de 50 milhões de usuários do Facebook para direcionar mensagens pró-Trump, sem consentimento dos donos dos perfis.
Na última terça-feira (7), o marqueteiro esteve no Proxxima, evento de tecnologia e inovação com foco no setor de comunicação. Sua palestra, intitulada “O que sua marca pode aprender com as campanhas de Trump e Bolsonaro?”, tinha como objetivo mostrar técnicas de marketing digital utilizadas em período pré-eleitoral, tanto nos Estados Unidos em 2016, quanto no Brasil em 2018.
Antes de falar de Donald Trump e Jair Bolsonaro, Torretta falou do pioneiro no marketing político digital: o ex-presidente dos EUA Barack Obama. Tanto na campanha para as eleições americanas de 2008, quanto na de 2012, Obama utilizou as redes sociais como peça central para promoção de suas ideias e propaganda política.
Segundo o marqueteiro político, o ex-presidente dos EUA foi o primeiro político a impulsionar publicações em postagens nas redes sociais e também o pioneiro na utilização do Big Data, método que capta, analisa e segmenta uma grande quantidade de dados. “Na campanha de 2012, Obama gastou 30% do dinheiro de sua campanha em inteligência de mercado”, diz.
Essa segmentação de dados, para Torretta, não foi só o grande segredo de Obama, mas também de Trump e Bolsonaro. “Hoje, você consegue separar as pessoas não só por questões demográficas, mas também por comportamento e valores”, afirma. “Com isso, você pode distribuir a mesma mensagem de formas diferentes e adaptadas para cada pessoa.”
Segmentação de dados
O trabalho de identificar o perfil comportamental dos usuários nas redes sociais geralmente é feito por empresas especializadas em Big Data. Uma delas é a já citada Cambridge Analytica, que trabalhou em conjunto com a equipe da campanha presidencial de Donald Trump em 2016 nos EUA.
“Nessa eleição americana de 2016, a (Cambridge) Analytica descobriu que aqueles que curtiam a página da marca de calça jeans Wrangler também curtiam publicações sobre armas”, diz Torretta. “Então eles perceberam que valeria a pena fazer postagens direcionadas para esse público e promover o Trump.”
A utilização de dados pessoais dos perfis de redes sociais não fica isenta de polêmicas. No ano passado, a Cambridge Analytica foi pivô de um escândalo envolvendo o uso de informações sensíveis de mais de 50 milhões de usuários do Facebook. A plataforma, por outro lado, além de ser questionada por sua política de segurança e privacidade, chegou a perder mais de US$ 100 bilhões em valor de mercado.