O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta quarta-feira (22) que não há divergências internas dentro do PSDB, seu partido, sobre a análise de um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas afirmou que a destituição de um presidente da República não pode ser estimulada apenas por um desejo.
Na semana passada, lideranças do partido se uniram para discutir o tema tendo como ponto de partida supostas irregularidades fiscais cometidas pelo governo, chamadas popularmente de "pedaladas fiscais", que teriam infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal.
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Lideranças tucanas já falam em dar encaminhamento ao pedido de processo de impeachment a partir do mês que vem.
“Não vamos criar o que não existe. Não há divergências internas, mas pode haver opiniões, que não sei quais são porque não estou no Congresso”, disse ele a jornalistas após participar de um evento sobre drogas no Rio de Janeiro.
“Impeachment não pode ser objeto de um desejo, é um processo. Existe quando há questões prescritas na lei na qual os responsáveis incidiram”, acrescentou.O ex-presidente reconheceu que a atuação das lideranças políticas é distinta e que elas têm que agir mais próximas ao clamor das ruas, “mesmo que os procedimentos (pertinentes a um processo de destituição) não estejam cristalizados”, de acordo com Fernando Henrique.
“As lideranças têm o dever de dialogar com os líderes desses movimentos… O que o Aécio fez ao dialogar com líderes e o que está sendo feito é perguntar: do ponto de vista jurídico, há condições para (o pedido de impeachment)? Não creio que tenham tomado decisão; não pode tomar antes dos fatos", ressaltou.
Nos meses de março e abril desse ano, milhares de pessoas foram às ruas de todo o Brasil protestar contra o governo, com boa parte dos manifestantes defendendo a saída de Dilma.
Fernando Henrique se mostrou contrário a um processo imediato de impeachment contra a presidente, preferindo defender o aprofundamento das investigações da operação Lava Jato, da Polícia Federal, como o caminho a ser seguido antes da ampliação do debate.
Segundo o ex-presidente, se houver novas descobertas no decorrer das investigações que apontem relação entre as irregularidades descobertas pela Lava Jato e membros do Congresso e do Executivo, haverá espaço para uma punição mais ampla e severa.
“A questão central no Brasil para mim hoje, sempre tendo em vista o fortalecimento da democracia, é levar adiante a operação Lava Jato e suas consequências. Eu não sei quais são as consequências para ver se existe alguma punibilidade eventual de algum poderoso ou que detenha poder de Estado, no Congresso ou no Executivo”, disse. “Vamos aprofundar e defender a necessidade de ir fundo nas questões."
Para o ex-presidente, se algo for descoberto no transcorrer das investigações, o próximo passo deveria ser consultar juristas sobre se as descobertas sustentariam um processo de destituição. Além disso, argumentou, seria preciso ouvir também a sociedade brasileira se há clima político no país para levar o debate à frente.
Para o ex-presidente, um debate dessa magnitude para o país não pode se transformar numa questão meramente partidária.
“Isso não é partidário, é nacional. Se houve crime de responsabilidade, isso não é uma questão do PSDB, é algo nacional e não é o PSDB que tem que levantar bandeira aqui ou acolá. Que a população levante, estou de acordo”, frisou o tucano.
“Parece haver um clima político para levar adiante um processo dessa natureza… não adianta colocar o carro na frente dos bois… tem que pensar sempre no depois”, completou.