Filho de Cabral fugiu de casa antes que a PF o prendesse

Policiais chegara ao prédio pouco depois da saída de Zé Cabral, acusado de gerenciar, por até R$ 1,5 milhão por mês, quadrilha de comércio ilegal de cigarros ; defesa nega acusações.

28 nov 2022 - 20h24
(atualizado às 20h42)
Cabral sentiu-se mal na cadeia, ao saber da operação contra o filho
Cabral sentiu-se mal na cadeia, ao saber da operação contra o filho
Foto: Fábio Motta/Estadão / Estadão

RIO - José Eduardo Neves Cabral, de 26 anos, terceiro dos cinco filhos do ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho, saiu de casa na madrugada da última quarta-feira, 23, pouco antes que policiais federais chegassem para tentar prendê-lo. Zé Cabral, como é conhecido, é acusado de integrar uma quadrilha de comércio ilegal de cigarros e se apresentou à Polícia na quinta-feira, 24, um dia após a suposta fuga. Imagens divulgadas neste domingo, 27, pelo "Fantástico", da TV Globo, mostram Cabral deixando o condomínio onde mora, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), às 5h28. A conduta permite supor que ele foi alertado de que minutos depois seria alvo da ordem de prisão.

A Operação Smoke Free da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal, que desde o dia 23 já levou 17 pessoas à prisão, indica que Zé Cabral supostamente atuava como gerente da organização criminosa especializada no comércio ilegal de cigarros. Segundo a PF, ele seria responsável por pagar propina a agentes públicos, ordenar extorsão contra comerciantes, emitir notas fiscais falsas e enviar dinheiro ao exterior de maneira ilegal. Pelas funções, segundo a reportagem do "Fantástico", receberia até R$ 1,5 milhão por mês.

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Segundo a PF, o grupo, conhecido pelo nome de "Banca da Grande Rio", deve cerca de R$ 2 bilhões à União, devido ao não pagamento de impostos. No dia 23, na operação nomeada Smoke Free, a PF tentou cumprir 27 ordens de prisão preventiva e 50 ordens de busca e apreensão expedidas pela 3ª Vara Criminal Federal do Rio . Também foram emitidas ordens de bloqueio, sequestro e apreensão de bens avaliados em cerca de R$ 300 milhões. Foram apreendidos imóveis, veículos de luxo, criptomoedas e dinheiro em espécie.

O suposto líder do grupo é Adilson Coutinho Oliveira Filho, conhecido como Adilsinho. Ele foi um dos alvos das ordens de prisão e continuava foragido até a noite desta segunda-feira, 28. Em abril de 2021, Adilsinho, mesmo em meio à pandemia de covid-19, reuniu 500 pessoas em uma festa para comemorar seu aniversário nos salões do hotel Copacabana Palace, em Copacabana (zona sul do Rio).

A investigação identificou mensagens elogiosas que teriam sido enviadas por Zé Cabral a Adilsinho: "Você ganhou um fã e soldado de verdade" e "Você é sujeito homem na essência da palavra. Do mesmo jeito que eu aprendi. Maior honra estar convivendo com você".

Acusação

De acordo com a investigação, iniciada em 2020, o grupo falsificava ou não emitia notas fiscais. Também depositava, transportava e comercializava cigarros em territórios dominados por facções e milícias, por meio de acordo entre esses grupos criminosos, segundo a PF. Os investigados são suspeitos de lavar os recursos obtidos ilicitamente e os remeter ao exterior, de forma irregular. Os crimes teriam sido cometidos entre 2019 e 2022.

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Ainda segundo a PF, a organização contava com uma célula de serviço paralelo de segurança, coordenada por um policial federal e integrada por policiais militares e bombeiros. Segundo o MPF, os investigados podem responder pela prática de crimes de sonegação fiscal, duplicata simulada, receptação qualificada, corrupção ativa e passiva, lavagem de capitais e evasão de divisas. Se condenados, podem ser punidos com 66 anos de prisão, sem contar com as causas de aumento de pena.

Ao saber que o filho era um dos alvos da operação, o ex-governador, que está preso na Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói, sentiu-me mal. Segundo a Polícia Militar, o preso, condenado a mais de 400 anos de prisão por corrupção e outros crimes, precisou receber socorro médico.

Resposta

Na tarde desta segunda-feira, 28, o Estadão não conseguiu contato com as defesas de Zé Cabral e Adilsinho. Ao "Fantástico", a defesa de Cabral disse que as acusações são absurdas e que a inocência dele ficará provada. O advogado de Adilsinho afirmou que ele sempre atuou licitamente na distribuição de cigarros de comercialização autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Declarou ainda que é inverídica sua vinculação com qualquer organização criminosa e venda de cigarros contrabandeados.

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