Flávio Dino é opção para "furar a bolha" e vai do MST a Huck

Governador do Maranhão, do PCdoB, atua para tirar esquerda do isolamento; ação é vista com desconfiança em seu campo político

12 jan 2020 - 02h11
(atualizado às 11h40)

Nos primeiros dias de 2020, dois fatos lançaram o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), ao centro do debate político nacional. O primeiro foi a notícia de um encontro com o apresentador de TV e empresário Luciano Huck, apontado como possível candidato a presidente, que levou a especulações sobre uma chapa Huck/Dino em 2022. O segundo foi a reação do PT, por meio de um de seus vice-presidentes, o deputado Paulo Teixeira (SP), que usou as redes sociais para dizer que, "com Lula ou Haddad, Dino estará na nossa chapa presidencial".

Dias antes, o próprio Lula havia elogiado Dino durante uma feijoada na casa do ex-prefeito Fernando Haddad. Para o ex-presidente, o governador é, atualmente, um dos únicos líderes da esquerda que consegue falar para "fora da bolha".

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ARQUIVO 10/01/2020 POLITICA Governador do Maranhao Flavio Dino (PCdoB) encontra com o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso (PSDB) 
ARQUIVO 10/01/2020 POLITICA Governador do Maranhao Flavio Dino (PCdoB) encontra com o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
Foto: Foto: Divulgação / Estadão Conteúdo

Tirar a esquerda do isolamento em que se meteu nos últimos anos tem sido o principal objetivo de Dino no plano nacional. Desde que tomou posse, em 2015, o governador mantém uma coligação de 16 partidos que vai do PCdoB ao DEM, incluiu líderes evangélicos no governo e construiu boas relações com setores distintos, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a Federação das Indústrias do Maranhão.

Além disso, aprovou em velocidade recorde a reforma da previdência estadual, participou da criação de três consórcios regionais de governadores e abriu diálogo com nomes tão díspares como Lula e o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidenciável do PSOL em 2018, Guilherme Boulos, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em junho do ano passado, fez uma visita ao arquirrival, o ex-presidente José Sarney (MDB).

"Flávio Dino é um interlocutor político nacional. A agenda com o Huck não foi um ponto fora da curva. Não tem fato novo nisso", disse o deputado federal Márcio Jerry, presidente do PCdoB maranhense, integrante da direção nacional do partido e homem forte do primeiro governo Dino.

O encontro ocorreu na casa do apresentador um dia depois de Dino participar de um seminário na Casa das Garças, 'think tank' que tem entre seus associados expoentes do liberalismo como o ex-ministro Pedro Malan, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco e o presidente do Novo, João Amoêdo, a convite do ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung, um dos articuladores do projeto político de Huck. Antes, os dois haviam conversado pelo menos meia dúzia de vezes por telefone. Não se falou em composição de chapa.

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Segundo Hartung, o encontro faz parte de uma série de diálogos que Huck tem mantido com líderes políticos, sem motivações eleitorais. "Não estamos costurando uma frente ampla, mas o diálogo. É um movimento de aproximação de quem defende e valoriza as instituições e que pode evoluir para outros pontos como quem se incomoda com a desigualdade social", disse Hartung.

Reações

O encontro gerou críticas a Dino por parte da esquerda nas redes sociais e questionamentos internos de setores do PCdoB. A decisão de romper a "bolha", no entanto, está de acordo com a orientação partidária. "Os conceitos e valores do atual governo são perigosos, tem risco potencial de produzir danos à democracia. Nesse quadro há que se construir um campo de diálogo democrático. Assim deve ser lido esse tipo de conversa. E precisamos de um degelo, pra superar essa polarização estéril. Fazer a polêmica de mérito nos temas essenciais e exercitar a produção de convergências", afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), líder do partido na Câmara.

Alguns líderes do partido viram como "indelicadeza" a manifestação de Paulo Teixeira por, na avaliação deles, tratar um aliado histórico como força auxiliar. Mas o petista e o governador têm longa relação política estreitada por dramas pessoais em comum - os dois perderam filhos mais ou menos na mesma época. "Eu defendo que as disputas de 2020 e 2022 devem ser feitas com a unidade da esquerda", disse Teixeira.

Desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, Dino participa de tentativas para unificar uma ampla frente de oposição ao governo. No início do ano ele, Haddad, Boulos, a líder indígena Sonia Guajajara e o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB) criaram o Unidade Progressista. Resistência de setores do PT fez o grupo perder força. A prisão de Coutinho por suspeita de corrupção sepultou de vez o projeto.

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Ao mesmo tempo, aproveitando-se das características geográficas do Maranhão, Dino ajudou a criar o Consórcio do Nordeste, que reúne os nove Estados da região, e participou dos consórcios da Amazônia e do Brasil Central. Foram realizadas três reuniões em São Luís. Os consórcios servem para driblar a falta de recursos e dificuldades na relação com o governo federal e servem de foro para articulações entre os governadores. Dino ainda esteve em evento do "Direitos Já" que reuniu integrantes de 16 partidos no Tuca, em São Paulo, em oposição a Bolsonaro. Todas essas iniciativas esbarraram no "sectarismo" de setores da esquerda, em especial do PT.

Críticas

As constantes viagens a São Paulo e a Brasília levaram a oposição no Maranhão a acusar Dino de abandonar o Estado em nome de um projeto nacional. "O governador abandonou o Maranhão. Participa de mais eventos fora do Estado do que aqui. Faltam foco e articulação com o governo federal, que sempre mandou muitos recursos para o Estado. Hoje, seu foco é a campanha antecipada pelo Brasil e o contraponto ao presidente", disse o deputado estadual Adriano Sarney (PV), neto do ex-presidente e único integrante do clã, hoje, a ocupar cargo eletivo.

Aliados do governador rebatem dizendo que a agenda de viagens de Dino não sofreu oscilações nos últimos anos e que a maioria das ausências é por motivo de eventos oficiais.

A aproximação com os evangélicos também provocou reações negativas de setores do PT maranhense descontentes por terem sido excluídos da chapa majoritária em 2018 para dar espaço à senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), ligada a igrejas. Além disso, a criação de 36 cargos de capelães da Polícia Militar, a maioria entregue a pastores evangélicos, levou à abertura de processo na Justiça Eleitoral - por uso da máquina pública - ainda não julgado.

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Dino também se tornou alvo de opositores por, segundo eles, fazer no Maranhão aquilo que critica em nível federal, ao aprovar uma reforma da previdência estadual de forma relâmpago. O governador foi ainda criticado pela esquerda por ter apoiado o acordo para entrega da base de Alcântara aos EUA firmado pelo governo federal.

A interlocutores, Dino tem dito que considera improvável uma chapa com Huck por motivos ideológicos e políticos, mas que não vai descartar a possibilidade de imediato. Nesta semana, ele estará em São Paulo para participar de um evento do Instituto Lula. Conversas com o ex-presidente sobre as eleições de 2020 e 2022 estão no radar.

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