“Eu sou Amazônia”, anunciou Fafá de Belém ao abrir o palco do último dia do Aliança Global contra a Fome e a Pobreza Festival. Na Praça Mauá, no Centro do Rio, a artista também fez uma crítica ao tratamento com as pessoas do Norte do País: “Não somos exóticos, não queremos ser alegoria na festa de ninguém.”
Organizado pela primeira-dama, Janja, o evento faz parte da programação do G20 no Rio de Janeiro. O terceiro e último dia do festival, que ganhou o apelido de ‘Janjapalooza’, parecia o menos cheio no início da noite. Com grades de segurança separando o palco e o tempo fechado na capital carioca, o público levava o título de menor e menos enérgico até as 21h, quando a Praça Mauá ficou lotada com fãs cantando, em coro, sucessos de Alceu Valença e Ney Matogrosso.
Da Amazônia ao gospel
A sustentabilidade é um dos pilares de discussão entre os líderes globais que fazem parte do G20. Do palco, Fafá desabafou sobre a negligência com os povos da Amazônia.
“Há 50 carrego o nome da minha terra junto comigo. O que vimos agora, o rio seco, o ribeirinho sem ter o que comer porque o peixe já morreu. A natureza está enlouquecida porque enlouqueceram ela”, disse, falando ainda da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a Cop30, que acontecerá em Belém.
Se ontem Mariene de Castro levantou o público com músicas sobre religiões afro-brasileiras, neste sábado foi a vez do pastor Kleber Lucas cantar louvores para a plateia da Praça Mauá. A canção ‘Deus cuida de mim’, um clássico gospel, foi o ponto alto da participação do artista.
Após o show gospel, a programação musical foi interrompida e a primeira-dama entrou no palco ao lado da ministra da cultura, Margareth Menezes. As duas anunciaram o poeta pernambucano Antônio Marinho. No palco, o artista declamou um poema em que repetia, inúmeras vezes, a frase: “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”. O público entrou na “brincadeira” e passou a falar junto.
Lula discursou no festival
O momento preparou o público para a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A presença do petista não foi surpresa, considerando o grande esquema de segurança montado na Praça Mauá. No entanto, ele surpreendeu ao trazer consigo um convidado especial não anunciado previamente: Gilberto Gil.
Ao subir ao palco acompanhado do cantor, Lula destacou a importância de transformar a fome em uma questão política global e agradeceu a participação de artistas e do público no evento. Em seguida, enfatizou que a fome precisa deixar de ser tratada apenas como uma questão social para se tornar uma prioridade política mundial.
“A fome não é uma questão da natureza, ela é fruto da irresponsabilidade dos governantes do planeta. É preciso coragem, sensibilidade e, sobretudo, humanismo para mudar essa realidade. Não podemos permitir que uma criança morra de desnutrição”, afirmou.
Nova MPB
Lula deixou o palco aos gritos de ‘olé, olá’ de apoiadores que estavam na plateia. A retomada musical ficou para a galera da Jovem Dionísio, um grupo jovem, mas já com um longo currículo de “hits de Tiktok”, como ‘Acorda Pedrinho’ e ‘Tô Bem’.
A banda paranaense passou o bastão no palco para Tássia Reis. A artista aproveitou para pedir pelo fim da escala 6x1, assunto discutido nos últimos dias em razão de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP). Seguindo a safra da Nova MPB, subiram ao palco Jotta. Pê, vencedor do Grammy Latino, Romero Ferro, com uma homenagem a Luiz Gonzaga e Jaloo.
Ney ovacionado e emoção com ‘Pro dia Nascer Feliz’
Logo depois, grandes nomes da música brasileira se apresentaram em sequência. Maria Gadú emocionou com ‘Dona Cila’ e falou pela causa indígena. Alceu Valença veio logo depois, levantando a plateia com sucessos absolutos, como ‘La Belle Du Jour’ e ‘Anunciação’.
Se a Praça Mauá parecia mais vazia às 19h, quando começaram os shows, o que se via na apresentação do pernambucano era um “mar” de mãos batendo palma ao ritmo das músicas. Alceu também aproveitou para discursar: “A todo populista traidor do povo. A voz do povo é a voz de Deus”.
A empolgação do público aumentou ainda mais com Ney Matogrosso, que entrou no palco do festival sob gritos de “Ney, eu te amo”. O cantor cantou ‘Poema’, composição de Cazuza, ‘Balada do Louco’ e ‘Sangue Latino’, acompanhado do início ao fim por um público admirado com sua voz.
Ao final, como aconteceu nos outros dois dias de festival, todos os artistas voltaram ao palco e cantaram a música-titulo da noite: ‘Pro dia nascer feliz’. O encerramento do Aliança Global Contra Fome e a Pobreza Festival ainda terminou com gritos de “mais um”, incomuns nas outras noites de programação.