O governo do Acre anunciou nesta quarta-feira o fechamento do abrigo de imigrantes refugiados de Brasileia, cidade localizada na fronteira com a Bolívia, usado para acolher haitianos refugiados que chegam pelo norte do Brasil.
O anúncio foi feito pelas autoridades acreanas para a ONG internacional Conectas Direitos Humanos, que já havia denunciado as péssimas condições do local.
"A Conectas questionava justamente as condições deste abrigo. Estávamos há oito meses cobrando e ouvindo do Governo Federal que eles estavam 'preparando uma força tarefa para melhorar e ampliar o abrigo', mas isso não saiu do papel", afirmou à Agência Efe a coordenadora de Política Externa da Conectas, Camila Asano.
De acordo com a ONG, o local não contava com distribuição de sabão ou pasta de dente e o esgoto corria a céu aberto, com 90% dos pacientes do hospital local provenientes do campo com diagnóstico de diarreia.
O local, com capacidade para 300 pessoas, já chegou a abrigar cerca de 2.500 segundo a Conectas, além de imigrantes que usavam apenas os serviços de alimentação do local.
Para a coordenadora da ONG, o fechamento do abrigo e a transferência dos imigrantes para outros estados pode ser considerado um "improviso".
"Trata-se de uma decisão pouco pensada porque não levou em consideração uma série de lacunas que ficaram desprotegidas neste processo", lamentou a coordenadora, destacando a ausência total de acolhimento para os imigrantes que chegarem pela fronteira norte do país a partir de sábado.
De acordo com o governo acreano, até sábado todos os imigrantes, a maioria haitianos, serão transferidos para um centro de exposições na capital, Rio Branco, para em seguida serem despachados para Rondônia, de onde partirão para São Paulo.
Os imigrantes que chegarem após esta data deverão fazer este caminho por conta própria até Rio Branco, onde fica o centro de eventos e exposições para o qual foi transferido o abrigo.
"A gente precisa lembrar que os haitianos que chegam pelo norte do país passam por uma rota irregular de imigração dominada por aliciadores", comentou Camila Asano ao ressaltar os riscos que os haitianos correm ao entrar e transitar irregularmente no país.
"Isso é um exemplo de um improviso que desconsiderou aspectos básicos de um acolhimento humanitário, que foi o que o Brasil se propôs a fazer", criticou a coordenadora da ONG.