O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi acionado pela presidente Dilma Rousseff para encontrar uma solução para o balanço contábil da Petrobras, para que a metodologia adotada seja aceita pelos órgão de controle do mercado de ações, disseram à Reuters duas fontes nesta terça-feira.
"Ele (Levy) entende dessa coisa e está debruçado sobre isso", afirmou à Reuters um parlamentar com conhecimento do assunto, sob condição de anonimato.
A Petrobras anunciou o balanço não auditado do terceiro trimestre na semana passada, em um anúncio que não incluiu nenhuma baixa contábil relacionada às denúncias de corrupção da Operação Lava Jato, em meio à dificuldade de se estabelecer valores incontestáveis enquanto o processo ainda corre na Justiça.
Especialista em contas públicas, Levy, ex-secretário do Tesouro, foi chamado para encontrar uma fórmula na medida em que a situação da Petrobras também impacta o governo.
O escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras já afetou as emissões externas do Brasil este ano, disse separadamente à Reuters nesta terça-feira uma fonte da equipe econômica com conhecimento do assunto. Uma segunda fonte do governo confirmou que Levy foi escalado para ajudar com o tema.
"Ele participa de um esforço para que uma metodologia seja pactuada entre os órgão reguladores de mercado de ações", disse a fonte, sob condição de anonimato, indicando a preocupação do governo em ter um balanço que seja aprovado pela SEC, dos Estados Unidos, e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
"Não há uma metodologia reconhecida mundialmente para dar baixa no balanço de ativos fraudados", explicou a fonte, que não negou que nessas conversas o ministro da Fazenda também esteja prospectando nomes para atuar na diretoria e no Conselho de Administração da Petrobras.
Desde a semana passada, quando a Petrobras divulgou seu balanço não auditado e sem as baixas contábeis dos ativos e contratos que teriam sido alvo de corrupção, havia uma grande preocupação do governo sobre qual metodologia adotar para evitar processos da SEC e da CVM.
Isso inclusive, segundo uma fonte do Palácio do Planalto ouvida pela Reuters na semana passada, teria impedido a aprovação do balanço não auditado com as baixas contábeis.
Saída de Graça
No Palácio do Planalto, a divulgação do balanço sem as baixas contábeis dos contratos que são alvo da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga o escândalo bilionário de corrupção na estatal, enfraqueceu a posição da presidente da companhia, Maria das Graças Foster.
Um auxiliar presidencial disse nesta terça-feira, sob condição de anonimato, que a divulgação foi considerada "uma trapalhada". "A falta de comunicação e clareza na divulgação piorou ainda mais a situação da empresa", disse a fonte.
Nesta terça, Graça Foster, como prefere ser chamada, reuniu-se com Dilma, o que deu margem a rumores sobre a troca no comando da estatal e impulsionou suas ações.
A fonte do governo, que falou sobre a ajuda de Levy com o balanço da companhia, disse que Graça "não deixa a Petrobras hoje (terça-feira)".
A fonte avaliou ainda que dificilmente haverá troca no comando da estatal até que o balanço contábil auditado seja aprovado pelo Conselho da Petrobras.
Os resultados, que deveriam ter sido conhecidos em novembro, tiveram sua publicação adiada após o auditor PricewaterhouseCoopers ter se recusado a aprovar as contas da petroleira devido às denúncias de corrupção envolvendo a estatal e algumas das maiores empreiteiras do Brasil.
Na semana passada, a presidente da Petrobras disse no balanço que a empresa concluiu "ser impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da companhia".
O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann, afirmou nesta terça-feira a jornalistas que uma eventual saída de Graças Foster da presidência da Petrobras não foi decidida em reunião nesta tarde com a presidente Dilma Rousseff.