O candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad, considerou uma "contradição" o fato de seu adversário Jair Bolsonaro (PSL) ter criticado durante anos o Bolsa Família e seus beneficiários e agora prometer a concessão de um décimo terceiro para o programa.
O petista argumentou que Bolsonaro, em 28 anos de atuação na Câmara dos Deputados, aprovou pautas prejudiciais aos trabalhadores e passou quase uma década "batendo" no programa Bolsa Família.
"Se tem alguém que criticou o Bolsa Família e, de certa maneira, humilhou os seus beneficiários ao longo dos últimos dez anos, foi o meu adversário. Aí não é fake news. Basta ver na internet as frases que ele pronuncia sobre nordestinos que recebem o Bolsa Família", disse Haddad a jornalistas.
"Há uma contradição muito grande entre o que ele fez na vida nos 28 anos. Ele está há 28 anos na Câmara e só vota contra o trabalhador. Tudo o que ele faz é votar contra o trabalhador. Votou contra a pessoa com deficiência, votou contra o trabalhador na reforma trabalhista... e agora quer dar um cavalo de pau e dizer que defende os pobres?", afirmou.
A entrevista do petista estava originalmente prevista para ocorrer na porta da sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), após reunião com o secretário-geral da entidade, dom Leonardo Steiner.
Mas o local da entrevista foi alterado de última hora, após dois militantes do candidato Jair Bolsonaro (PSL) chegarem ao local, afirmando que o petista supostamente pegaria dinheiro dos "fiéis" para transferir a "ONGs abortistas". Os apoiadores de Bolsonaro chegaram, inicialmente, a seguir o comboio de Haddad.
Durante o encontro na CNBB, Haddad reafirmou pontos de seu programa de interesse dos católicos, entre eles o combate à cultura da violência, o fortalecimento da democracia e suas instituições, o fortalecimento de órgãos de combate à corrupção, dando autonomia e recursos para a Polícia Federal, o Ministério Público e o Poder Judiciário, a proteção do meio ambiente e o compromisso com a vida, uma das questões mais caras aos eleitores religiosos.
O candidato aproveitou o encontro com a entidade para fazer um apelo a fiéis que chequem as informações que recebem, principalmente via redes sociais, antes de repassá-las. Haddad argumentou que as pessoas estão sendo "bombardeadas" com informações falsas e voltou a negar que tenha ocorrido a distribuição de "material impróprio" para crianças nas escolas públicas.
"Jamais houve distribuição de material impróprio para escolas, e se tivesse acontecido, jamais teria recebido o aval de professoras e diretoras", afirmou.
"Temos que ganhar a eleição por meio do melhor projeto, do melhor argumento e não atacando a honra das pessoas com informações falsas", defendeu Haddad. "Usar mentira para ganhar a eleição não me parece recomendável no Estado de Direito."
Em nota, o secretário-geral da CNBB afirmou que "é comum" receber candidatos em período eleitoral que solicitem agenda. Acrescentou ainda que a Conferência não tem "partido e nem candidato".
"O candidato expôs suas propostas de governo e sua preocupação com o Brasil. Da minha parte, abordei com o candidato assuntos que preocupam os bispos do Brasil: a não legalização do aborto, a proteção do meio ambiente, atenção especial à questão indígena e quilombola, a defesa da democracia e o combate rigoroso à corrupção."
Chances
Questionado sobre a pesquisa Datafolha divulgada na última quarta-feira, Haddad disse que tem chance de chegar a 50 por cento dos votos válidos até o dia 28 de outubro, data da votação do segundo turno da eleição presidencial.
O petista lembrou que saiu de apenas 4 por cento de intenções de voto no início da campanha, há 30 dias, e que agora está com 42 por cento, segundo a pesquisa, que aponta Jair Bolsonaro (PSL) com 58 por cento dos votos válidos.
Haddad entrou formalmente na corrida presidencial apenas quando a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base na Lei da Ficha Limpa.
O candidato do PT declarou ainda, que sua campanha está preparando um estratégia para o segundo turno, verificando como aproveitar tempo de TV e disposta a confrontar o seu projeto com o de Bolsonaro.
Haddad agradeceu os apoios declarados à sua candidatura, como a do adversário no primeiro turno Ciro Gomes (PDT), de governadores e de partidos, como o PSB, e disse acreditar que "as forças democráticas estão ganhando impulso neste segundo turno".
O petista defendeu ainda que o país "merece" um debate, em referência à ausência de Bolsonaro nos últimos debates televisivos no primeiro turno das eleições e à já anunciada não participação nos primeiros debates previstos do segundo turno, por orientação médica.
"Eu sou leigo, mas me parece contraditório a pessoa não poder debater mas poder dar entrevista, porque a entrevista é um debate com um jornalista", argumentou. "Qual a diferença de debater com jornalista e debater com adversário", disse Haddad, acrescentando que é professor e que irá tratar o concorrente com "deferência".
"Às vezes jornalista é mais duro que um adversário."
Na quarta-feira, Bolsonaro disse que passará por uma nova avaliação médica na próxima semana e que estará disponível para comparecer a dois debates. O candidato do PSL permanece com restrições impostas pelos médicos após passar por duas cirurgias e permanecer hospitalizado por 23 dias em consequência de um facada sofrida durante ato de campanha no mês passado em Juiz de Fora (MG).