Houve "quase ingratidão", diz ministro sobre protestos no País

Após declaração, Gilberto Carvalho afirmou que foi mal interpretado

25 jan 2014 - 08h14
(atualizado às 08h15)

Gilberto Carvalho, interlocutor da presidente da República com os movimentos de esquerda, disse na sexta-feira que, durante os protestos de junho do ano passado, integrantes do governo federal ficaram "perplexos" e "quase com um sentimento de ingratidão" pelo fato de as manifestações terem se voltado contra um governo que considera ter avançado em conquistas sociais. "Quando acontecem as manifestações de junho, da nossa parte houve um susto. Nós ficamos perplexos. Quando falo nós, é o governo e também todos os nossos movimentos tradicionais. (Houve) uma certa dor, uma incompreensão e quase um sentimento de ingratidão. (Foi como) dizer: fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós", declarou o ministro da Secretaria Geral durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre, evento que reúne movimentos sociais, parcela cativa do eleitorado petista nas últimas décadas. As informações foram publicadas no jornal Folha de S. Paulo.

Veja o quanto se paga em tarifas de ônibus nas capitais brasileiras

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No momento da fala do ministro, uma pessoa que acompanhava o discurso da plateia gritou: "Ah, sai daí". À tarde, em outra participação no fórum, Carvalho disse ter sido "mal interpretado" quando falou do sentimento de ingratidão. Afirmou que se tratou de uma reação inicial, e equivocada. "Citei hoje de manhã um fato que foi mal interpretado. Depois até um veículo de imprensa falou que tinha gente no governo com certo sentimento de ingratidão. Um sentimento equivocado, evidentemente. Tem muita dificuldade de compreender, vamos ser sinceros. A gente passou muito tempo até tentar entender", afirmou. A onda de manifestações começou em capitais contra o preço do transporte coletivo, mas se alastrou para outras áreas do serviço público e atingiu a popularidade da presidente Dilma Rousseff e de governadores e prefeitos do País.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus. A mobilização surtiu efeito e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas – o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. "Essas vozes precisam ser ouvidas", disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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