A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) defendeu nesta segunda-feira (8), em Curitiba, o direito de as pessoas protestarem contra a gestão do interino Michel Temer (PMDB-SP), inclusive durante os Jogos Olímpicos do Rio, algo que vem sendo impedido pela organização do evento esportivo. Segundo ela, o País está sendo "afetado, tomado e dilacerado por um golpe que ainda não se completou, mas que temos todos obrigação de parar".
"É próprio dos golpes não serem identificados como tal, porque isso implica em avaliação crítica e tomada de posições. Não surpreende que nos últimos dias tenham prendido pessoas que se manifestam dizendo 'Fora, Temer'", afirmou. "(Acho) estranho que não seja possível falar no (estádio do) Maracanã e em Deodoro (onde fica um complexo esportivo sede de diversas competições)", completou.
O Comitê Rio 2016 e o Comitê Olímpico Internacional (COI), contudo, alegam se basear na lei 13.284, sancionada pela própria petista em 10 maio, para coibir os protestos. A legislação proíbe bandeiras “que não sejam para fins festivos ou amigáveis”, além de manifestações de caráter “ofensivo, xenófobo, racista ou que estimulem outras formas de discriminação”.
Dilma foi a principal atração da noite de hoje do "Circo da Democracia", encontro organizado de 5 a 15 de agosto na Praça Santos Andrade, centro da capital paranaense, por mais de 100 entidades da sociedade civil. O objetivo é debater questões como participação política, educação, justiça, cultura, economia e comunicação. Em discurso de 40 minutos, ela falou que é necessário fazer uma "repactuação", incluindo, além de novas eleições presidenciais em 2016, uma ampla reforma política.
De acordo com a presidente afastada, o Brasil tem uma fragmentação partidária assustadora. “A continuar esse regime vamos ter mais partidos antes que pisquemos o olho. Toda a estrutura de financiamento de campanha, acesso a horário eleitoral e fundo partidário leva à ‘desprogramatização’ dos partidos. Que tenhamos cinco, seis ou sete, e não 25 (com representação no Congresso)”, sugeriu.
A petista chegou por volta de 18h15, acompanhada da ex-ministra de Política para as Mulheres Eleonora Menicucci. Também compuseram a mesa os senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Roberto Requião (PMDB-PR), a poeta e compositora Alice Ruiz, viúva de Paulo Leminski, a vice-prefeita da cidade, Mirian Gonçalves (PT), sindicalistas e membros de movimentos sociais. As falas eram intercaladas por gritos contrários a Temer e ao juiz federal Sergio Moro, responsável por julgar as ações penais da Operação Lava Jato em primeira instância.
Houve ainda uma série de menções, por parte do cerimonial, a frases históricas de mulheres, como a própria Alice, a poeta Helena Kolody e a escritora e filósofa feminista Simone de Beauvoir. Na avaliação de Dilma, é inadmissível que, num País integrado majoritariamente por mulheres de classe média, jovens e pessoas honestas, seu governo seja substituído por outro “de homens velhos, ricos e que têm problema grave com a Justiça”.
As discussões do "circo"acontecem em uma lona, montada em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para participar, era necessário fazer cadastro prévio no site do evento, uma vez que a capacidade do local é limitada. Muitas pessoas, porém, conseguiram acompanhar o encontro das escadarias da UFPR. No próximo sábado (13), às 18h20, quem conduzirá o debate é o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT-CE), que deve disputar a sucessão ao Palácio do Planalto em 2018.